APOSTILA DE SOCIOLOGIA

UNIDADE I : INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA

A Sociologia, é uma ciência das áreas humanas, definida como Ciências Sociais, que engloba Sociologia, Antropologia e Ciência Política, cada uma delas desenvolvidas com teorias, objetos de estudo e metodologia específica.

As Ciências Sociais, como o nome já aponta, se preocupa em organizar, sistematizar, pesquisar e compreender os processos e dinâmicas de todas as sociedades humanas.
O objetivo deste curso, é levar você a organizar o conhecimento que possui adquirido na vivência social dentro dos GRUPOS SOCIAIS em que vive, redimensionando este conhecimento, dentro de parâmetros científicos.
Este redimensionamento deve levar você a mudar o seu ‘olhar pessoal’ para um ‘olhar social’, levando-o a ter o distanciamento necessário para analisar os PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO, pelos quais passou desde a infância e os FATOS SOCIAIS, que ocorrem em seu contexto social, que vivencia e observa no mundo, possibilitando-o a perceber, analisar e interpretar mais claramente a realidade em que vive.
Esse olhar social (distanciado), deve facilitar a compreensão de sua realidade, desenvolvendo pensamento e postura crítica diante desta realidade e facilitar a compreensão dos processos históricos responsáveis pela formação dos PADRÕES CULTURAIS em que está inserido, ‘tirando’ você da posição passiva, que vive apenas as situações, para uma ação consciente, participativa, ativa, como cidadão e agente social de transformação da sociedade em que vive. E principalmente, leva-lo(a) a ver-se como SUJEITO DA HISTORIA, que carrega em si todo o processo histórico de formação da sociedade brasileira, através da língua, das tradições, dos costumes, da cor, raça, religião e que com sua ação cotidiana, ajuda a manter, modificar ou romper com a ordem social reinante.
Para que você alcance o objetivo do curso, é necessário que adquira o conhecimento de alguns conceitos básicos da Sociologia.

POR QUE ESTUDAR SOCIOLOGIA?

Creio que esta é a primeira pergunta que lhe vem quando vê esta disciplina na grade curricular.
O estudo da Sociologia começa com você, na existência de grupos sociais, de comunidades onde você nasceu, cresceu e age como indivíduo e cidadã(o).

Texto 1: O sujeito no contexto histórico-social
Vivência em sala de aula para ilustrar o sentido da Sociologia.
Sonia Jobim
Uma de minhas alunas, na faixa dos seus setenta anos, revelou que tinha certa mágoa de seu pai por não ter lhe deixado estudar quando menina. Perguntei de onde ela era. D. Roberta ( nome fictício ) vinha do interior de um dos estados do Brasil, onde predominavam as grandes fazendas agro-pecuárias.
Perguntei a D. Roberta se só ela não podia estudar. Creio que pela primeira vez, ela pensou na questão de outra forma. Respondeu-me que todos os pais, trabalhadores das fazendas, não deixavam os filhos estudarem.
A minissérie Amazônia, tem mostrado que no Acre, os coronéis impediam a construção de escolas. Numa das cenas, a esposa de um coronel expõe ao marido o desejo de implantar uma escola e ele responde que ‘peça tudo o que quiser, menos isso’ e diz que ‘escola nem em fotografia’. E justifica dizendo que seringueiro estudado se tornava rebelde.
Aos coronéis, fazendeiros, usineiros não interessavam escolarizar a população trabalhadora, os camponeses, pois a escolaridade amplia a compreensão do universo social, organiza o pensamento, fortalece e descobre potencialidades e lideranças. Além disso possibilita o conhecimento de outras vivências em sociedade e de novas tecnologias.
O pescador, por exemplo, que se escolariza, une seu conhecimento prático ao conhecimento teórico-escolar, ampliando sua compreensão do contexto social em que vive e trabalha. Ele adquire maior consciência de seu papel social na questão ambiental e de sua importância como agente de preservação do ambiente. A aquisição de novos conhecimento possibilita a aquisição de novas técnicas e a sofisticação tecnológica de práticas tradicionais. Tudo isso faz com que este pescador seja um agente de transformação e desenvolvimento social em sua comunidade. Com certeza, com novos conhecimentos adquiridos, apontará criticamente os problemas existentes e proporá estratégias para a solução destes problemas.
D. Roberta entendeu que seu pai e sua família viviam em um contexto socio-histórico, de domínio oligárquico, onde somente as classes privilegiadas e dominantes tinham acesso à educação. Que a mentalidade social da época era de domínio e submissão entre as classes. Era natural que seu pai seguisse as regras sociais impostas pelos coronéis. Essa análise sociológica do tempo-espaço em que D. Roberta vivia, possibilitou uma compreensão mais ampla de sua vida em comunidade e das regras as quais sua família estava submetida. Possibilitou também a D. Roberta compreender os fatores externos que influenciaram as ações de seu pai.
A Sociologia como pode ver, faculta o conhecimento mais aprofundado da sociedade. E o que você conhece, você cuida, preserva e atua com mais consciência coletiva.

Texto 2: A finalidade da Sociologia
Flávio M. Sarandy
‘A sociologia, como disciplina no ensino médio, não realiza nenhuma missão emancipadora nem se inscreve num projeto de transformação social. São bem mais modestos os seus objetivos... Ensinar sociologia não se resume a fornecer informações sobre o mundo social. Seja qual for o conteúdo ensinado, ele será sempre um meio para se atingir o fim: o desenvolvimento da perspectiva sociológica. Mais que discorrer sobre uma série de conceitos, a disciplina pode contribuir para a formação humana na medida em que proporcione a problematização da realidade próxima dos educandos a partir de diferentes perspectivas, bem como pelo confronto com realidades culturalmente distantes. Trata-se de uma apropriação, por parte dos educandos, de um modo de pensar distinto sobre a realidade humana, não pela aprendizagem de uma teoria, mas pelo contato com diversas teorias e com a pesquisa sociológica, seus métodos e seus resultados. Nesse sentido, o objetivo do ensino de sociologia - como, aliás, deveria ser o de qualquer ciência - é proporcionar a aprendizagem do modo próprio de pensar de uma área do saber, aliada à compreensão de sua historicidade e do caráter provisório do conhecimento - expressões da dinâmica e complexidade da vida.
No caso da sociologia, isso pode ser conseguido por meio de uma tomada de consciência sobre como a nossa personalidade está relacionada à linguagem, aos gestos, às atitudes, aos valores, à nossa posição na estrutura social - nas palavras de Dumont: para que o indivíduo de ontem se torne social, não mais ele e os outros, mas ele em meio aos outros...
Ensinar sociologia é, antes de tudo, desenvolver uma nova atitude cognitiva no indivíduo. Eis o aspecto humano essencial dessa disciplina.
Seria impossível, no entanto, codificar as reações de espanto e curiosidade ou as mudanças sutis de percepção e linguagem produzidas nos jovens que já tiveram o privilégio do contato com a ciência social. Menos no trato com as teorias sociais e mais na atitude dos alunos diante da vida em sociedade; menos no discurso informado por conceitos sociológicos - às vezes bem complexos -, mais nos olhares de quem se encontra em face de um enigma, é que se pode aferir quão importante se torna para os alunos a descoberta sobre como nossa vida é perpassada por forças nem sempre visíveis - por nossa simples pertença a um grupo social. E não a um grupo social qualquer, mas a esse grupo, com sua identidade, posição, símbolos e recursos de poder. Quando o aluno compreende que os cheiros, os gestos, as gírias, as tensões e conflitos, as lágrimas e alegrias, enfim, o drama concreto dos seus pares, é em grande medida resultante de uma configuração específica de seu mundo, então a sociologia cumpriu sua finalidade pedagógica. No fim das contas, é a cidadania e a democracia de nosso país que saem ganhando.’
Flávio Marcos Silva Sarandy ( professor de Sociologia no ensino médio do Centro Educacional Leonardo da Vinci, em Vitória/ES. É membro da minha sala de visitas virtual, o orkut ).

UNIDADE II : HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
Os fundamentos da reflexão sociológica a partir da problematização do mundo social .

Para alguns, a Sociologia representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes; para outros, é a expressão teórica dos movimentos revolucionários.
A Sociologia como vimos anteriormente, é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições.
Enquanto o indivíduo isolado é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos diversos, e interagem no interior desses grupos.
A Sociologia tem na Filosofia e História, os fundamentos para o desenvolvimento de suas teorias.

LINHA DO TEMPO DA CIÊNCIA FILOSÓFICA, HISTÓRICA E SOCIOLÓGICA

A Filosofia se estabelece como conhecimento no séc. VI, na Grécia com Tales de Mileto ( Grécia, 624/625 a.C. - 556 ou 558 a.C.) e a História começa com o grego Heródoto (Grécia, 485?–420 a.C.). A Sociologia surge como ciência no séc. XIX a partir dos estudos de Augusto Comte ( França, 1798 —1857 ).

O estudo científico dos fatos humanos somente começou a se constituir em meados do século XIX. Nessa época, assistia-se ao triunfo dos métodos das ciências naturais.
Diante da comprovação inequívoca da fecundidade do caminho metodológico apontado por Galileu ( Itália em Pisa, 1564 - 1642) com sua Física mecânica e outros, alguns pensadores que procuravam conhecer cientificamente os fatos humanos passaram a abordá-los segundo as coordenadas das ciências naturais. Outros, ao contrário, afirmaram a peculiaridade do fato humano e a conseqüente necessidade de uma metodologia própria. Essa metodologia deveria levar em consideração o fato de que o conhecimento dos fenômenos naturais é um conhecimento de algo externo ao próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que se procura conhecer é a própria experiência humana ( interna ).
De acordo com a distinção entre experiência externa e experiência interna, poder-se-ia distinguir diferenças entre a metodologia das Ciências Naturais e das Ciências Humanas.
Características das C. Naturais e C. Humanas

As ciências naturais, partiriam da observação sensível e seriam experimentais , procurando obter dados mensuráveis ( quantitativos ) e regularidades estatísticas (que podem ser reproduzidos) que conduzissem à formulação de leis de caráter matemático.
As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência humana, seriam introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não generalidades de caráter matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do espírito.
Embora as ciências humanas sejam recentes, a percepção de que os seres humanos são diferentes das coisas naturais é antiga. Sob esse ponto de vista, podemos dizer que, do século XV ao início do século XX, a investigação do humano realizou-se em três períodos:
1. PERÍODO DO HUMANISMO: inicia-se no século XV com a idéia renascentista da dignidade do homem como centro do Universo, prossegue nos séculos XVI e XVII com o estudo do homem como agente moral, político e técnico-artístico, destinado a dominar e controlar a Natureza e a sociedade, chegando ao século XVIII, quando surge a idéia de civilização, isto é, do homem como razão que se aperfeiçoa e progride temporalmente através das instituições sociais e políticas e do desenvolvimento das artes, das técnicas e dos ofícios. O humanismo não separa homem e Natureza, mas considera o homem um ser natural diferente dos demais, manifestando essa diferença como ser racional e livre, agente ético, político, técnico e artístico.
2. PERÍODO DO POSITIVISMO: inicia-se no século XIX com Augusto Comte, para quem a humanidade atravessa três etapas progressivas, indo da superstição religiosa à metafísica e à teologia, para chegar, finalmente, à ciência positiva, ponto final do progresso humano. Comte enfatiza a idéia do homem como um ser social e propõe o estudo científico da sociedade: assim como há uma física da Natureza, deve haver uma física do social, a sociologia, que deve estudar os fatos humanos usando procedimentos, métodos e técnicas empregados pelas ciências da Natureza.
3. PERÍODO DO HISTORICISMO: desenvolvido no final do século XIX e início do século XX por Dilthey, filósofo e historiador alemão. Essa concepção, herdeira do idealismo alemão ( Kant, Fichte, Schelling, Hegel ), insiste na diferença profunda entre homem e Natureza e entre ciências naturais e humanas, chamadas por Dilthey de ciências do espírito ou da cultura. Os fatos humanos são históricos, dotados de valor e de sentido, de significação e finalidade e devem ser estudados com essas características que os distinguem dos fatos naturais. As ciências do espírito ou da cultura não podem e não devem usar o método da observação-experimentação, mas devem criar o método da explicação e compreensão do sentido dos fatos humanos, encontrando a causalidade histórica que os governa.

POSITIVISMO
O Positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano, visando a obtenção de resultados claros, objetivos e completamente corretos.
Os positivistas, tinham suas origens sobretudo na tradição empirista inglesa que remonta a Francis Bacon ( Inglaterra em Londres, 1561 – 1626 ) e encontrou expressão em David Hume ( Escócia em Edimburgo, 1711 – 1776 ), nos utilitaristas do século XIX e outros. Nessa linha metodológica de abordagem dos fatos humanos se colocariam Augusto Comte ( França, 1798 – 1857 ) e Émile Durkheim ( França, 1858 – 1917 ), este considerado por muitos como o fundador da Sociologia como disciplina científica.
Os antipositivistas, adeptos da distinção entre ciências humanas e ciências naturais, foram sobretudo os alemães, vinculados ao idealismo dos filósofos da época do Romantismo, principalmente Hegel ( Alemanha em Esturgarda, 1770 – 1831 ) e Schleiermacher ( Polônia em Breslau, 1768 – 1834 ). Os principais representantes dessa orientação foram os neokantianos Wilhelm Dilthey ( Alemanha em Briebrich, Renânia, 1833 – 1911 ), Wilhelm Windelband ( Alemanha em Potsdam, 1848-1915) e Heinrich Rickert ( Alemanha em Danzig, 1863 – 1936 ).

WILHELM DILTHEY
Dilthey estabeleceu uma distinção entre explicação (erklären) e compreensão (verstehen).
O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A explicação consiste na atribuição de uma causa eficiente a um determinado evento, e é o mecanismo básico de constituição da ciência moderna, pois todo o progresso das ciências empíricas se baseou na eficácia da explicação dos fenômenos.
A compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas visam aos processos permanentemente vivos da experiência humana e procuram extrair deles seu sentido.
Os sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey, na própria experiência do pesquisador.
A intenção do pesquisador encontra-se contaminada pela sua posição no mundo, e a raiz do seu trabalho está justamente localizada onde se situa o pesquisador e junto a quem ele trabalha.
Na relação com o mundo, o pesquisador estabelece um encontro com o outro, com falas e discursos singulares, por meio da tradução da experiência do outro, num encontro de subjetividades.
Nas várias formas de compreensão do mundo, de nós próprios e do outro, passa-se por um conjunto de significados embutidos na cultura, na língua, no não-dito e na pluralidade de elementos, que necessitam de interpretações.
A noção de compreensão corresponde ao modo básico de orientação do homem no mundo histórico-social. A compreensão é o que há de mais cotidiano e de mais complexo na vida humana.
A compreensão está pressuposta em toda ação humana. O homem comum é capaz de compreender uma série de situações complexas que se lhe apresentam no dia a dia, embora lhe pareçam triviais: ao realizar o mais simples dos atos o homem, inserido no mundo histórico-social, está na verdade compreendendo uma série de fatos complexos.
A compreensão também se dá em três dimensões. Em primeiro lugar, o homem compreende as situações historicamente, vale dizer, a partir de sua inserção histórica. O que se apresenta para a percepção humana é, desde sempre, um fato histórico; o homem se move na história. Além disso, a compreensão tem uma dimensão análoga à porção teórica das ciências do espírito, em que o homem se vale de suas crenças, historicamente determinadas, para se situar no mundo. Compreender é avaliar situações a partir de certas crenças. Por último, a compreensão resulta na tomada de decisões e na formação de juízos de valores.
O que Dilthey descobre, ou mesmo revela, é que a ‘vida humana’ deve ser considerada o centro do universo do conhecimento. O mundo físico não é senão uma criação do homem, no afã de compreender a vida que lhe é próprio.
A tarefa de uma ciência do espírito é, desse modo, conhecer em sua própria estrutura, o mundo histórico.
Uma vez estabelecido que o universo do conhecimento não é nem o mundo físico e nem o mundo psíquico, mas sim o mundo que se desdobra a partir da vida humana, torna-se necessário redimensionar o mundo das ciências.
A realidade física e a realidade psíquica não são senão representações parciais da realidade total da ‘vida humana’. Essa nova psicologia deverá partir da experiência singular, “daquilo que me passa a mim e que te passa a ti, onde eu e tu não somos senão isto que nos passa”.
Wilhelm Dilthey valorizou a teoria da "visão do mundo" em que viver é interpretar o mundo natural. Sua obra "Introdução ao estudo das ciências humanas" (1883), critica a visão positivista da "explicação" sobre o homem buscando a "compreensão" da sua natureza social e histórica. (JAPIASSU & MARCONDES, 1995, p.73).
Dilthey, formula a dualidade das ciências da natureza e ciências do espírito que se distinguem por um método analítico esclarecedor e um procedimento de compreensão descritiva.
Para Dilthey, todas as formas de conhecimento do espírito, enquanto implicar numa relação com a história, teria como pressuposto a capacidade do homem de se transpor para dentro da vida psíquica do outro.
Dilthey contudo, foi sobretudo filósofo e historiador e não, propriamente, cientista social, no sentido que a expressão ganharia no século XX. Outros levaram o método da compreensão ao estudo de fatos humanos particulares, constituindo diversas disciplinas compreensivas.

É com os positivistas A. Comte e Durkheim, que a Sociologia surge como ciência.

Levando-se em conta os esforços realizados por tantos pensadores, desde a Antigüidade, para entender a sociedade e o seu desenvolvimento, a Sociologia poderia ser considerada a mais velha de todas as ciências, e a mais acolhedora. Tanto que hoje em dia praticamente todo mundo é “sociólogo” — “porque todos estamos sempre analisando os nossos comportamentos e as nossas experiências interpessoais” —, pois, até por razões emocionais, de alguma forma nos acostumamos a contemplar e a dar palpite sobre os movimentos da sociedade, as forças que conduzem os seres humanos, as razões dos conflitos sociais, as origens da família, as relações entre Estado e Direito, o funcionamento dos sistemas políticos, a função das ideologias e das religiões etc. Segundo esse raciocínio, podem ter sido sociólogos os veneráveis santos Agostinho (Tagasta, Numídia ao norte da África, 354 – 430 ) e Tomás de Aquino ( Campânia no sul da Itália, 1225 – 1274 ) e padre Antônio Vieira (Portugal em Lisboa, 1608 - 1697), que interpretavam a realidade social de acordo com os dogmas e interesses da Igreja Católica, bem como os notáveis Ibn Khaldun (Tunísia na África, 1332 – 1406), historiador muçulmano e Maquiavel, que criticavam toda interpretação teológica da sociedade.

A SOCIOLOGIA NASCEU NA ÁFRICA
IBN KHALDUN
Abdrrahman Ibn Khaldun, nasceu em Tunis, capital da Tunísia no norte da África, em 27 de maio de 1332 e faleceu no Cairo em 1406. É contemporâneo da dinastia dos Merinidas do Marrocos (1269-1420), dos Hafsidas Tunisianos (1228-1574), dos Nasrides de Granada (até 1492), do Mamelucos do Egito (1250-1517) e do Império Mongol de Tamerlão (1331-1405). Ibn Khaldun, encontrou o conquistador Mongol em 1401.
O Jovem Ibn Khaldun, foi educado num meio essencialmente cultural, seu pai era um letrado e continuou seus estudos até a sua morte, durante a peste de 1349, quando Ibn Khaldun, tinha 18 anos. Pode-se ver em Tunis, no bairro dos Andalus, sua casa e sua escola.
Ibn Khaldun, é o precursor das ciências sociais e é reconhecido como o historiador principal do mundo árabe em seu tempo. Mas, o mundo árabe de então dominava também o Mediterrâneo, Espanha e metade de Europa do leste. É considerado como hispânico-árabe pois sua família foi uma das principais e mais antigas de Sevilha, embora tivesse nascido na Tunísia e morrido no Cairo. Era diplomata e estadista, professor nas instituições precursoras do que hoje associamos a idéia de universidade e magistratura.
Sua obra mestra é “Muqaddimah” ou “introdução à história”, que trata do mundo árabe e muçulmano. Entretanto, julgou necessário conformar uma teoria da história e do seu método, e ao o fazê-lo, produziu um tratado que segundo alguns, como Arnold Toynbee (Inglaterra, 1889 – 1975) , «desarrolla una filosofía de la historia que es sin duda lo más grandioso de su tipo jamás escrito, en cualquier tiempo o lugar». Mais do que um tratado da história ou da sua filosofia, é um exemplo de um enfoque analítico sobre o fenômeno social que hoje em dia nós chamamos Sociologia. O livro I de sua história é um tratado geral da Sociologia; o II e o III são sobre a sociologia da política (o que hoje chamamos de Ciência Política); o IV é sobre economia política e o V versa sobre educação e conhecimento.
Toda a obra está estruturada em torno de um conceito que chamou “asabiyah”, ou coesão social. Este é o elemento ordenador do fenômeno social que surge espontaneamente das relações entre as pessoas e os grupos, que pode ser conformado e institucionalizado pela cultura e a religião, mas que também pode ser destruído ou debilitado pela decadência.
Ibn Khaldun é um precursor das ciências sociais modernas ao anunciar a existência de determinada ordem social subjacente ao fenômeno político, econômico, legal e moral.
Em suas palavras, ao definir, o que viu como a ciência nova que chamou “im al umran”, ou ciência da cultura: “Esta ciência tem seu próprio objeto de estudo, ou seja, a sociedade humana, com seus problemas e suas mudanças que se sucedem conforme essa natureza própria da sociedade”. (traduzido do artigo original em espanhol: http://www.biblioteca.cees.org.gt/topicos/web/topic-762.html )

Porém, a trajetória da Sociologia no Ocidente, só começa a ser delineada com o movimento político e intelectual conhecido como Iluminismo ( Inglaterra, Holanda e França, 1590 - séc XVII e XVIII ), que exerceu enorme influência no século XVIII, propondo reformas no interesse das classes privilegiadas ( elite ), conforme leis que regeriam ao mesmo tempo a sociedade, o universo e a natureza e a Revolução Industrial ( Inglaterra, 1750 com introdução da máquina a vapor - séc. XVIII em diante ). Em seguida, após a Revolução Francesa ( França, 1789 – 1799 ) e a queda do Antigo Regime ( regime político vigente na França até a Rev. Francesa ) , a Sociologia adquiriu os traços que ostenta hoje em dia, aos poucos destituindo-se da roupagem de ciência ética, de filosofia política ou social, preocupada em determinar uma ordem justa das relações humanas, para concentrar-se na descrição e interpretação dos elementos — desempenhos, grupos, valores, normas e modelos sociais de conduta — que determinam a integração dos sistemas sociais.

Revolução Século / Ano Esfera de atuação e impacto
Iluminismo A partir de 1590, séc. XVII – XVIII ideológica
Industrial Segunda metade do séc. XVIII ( 1750 ) econômica
Francesa Segunda metade do séc. XVIII ( 1789 ) política

Nesse sentido, a Sociologia é um fenômeno estrito e uma ciência, característica da sociedade moderna.
O termo Sociologie foi cunhado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Seu esquema sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remédios para os problemas de ordem social.
O surgimento da sociologia ocorreu num momento de grande expansão do capitalismo, desencadeado pela dupla revolução – a industrial e a francesa. O triunfo da indústria capitalista na revolução industrial desencadeou uma crescente industrialização e urbanização, o que provocou radicais modificações nas condições de existência e nas formas habituais de vida de milhões de seres humanos. Estas situações sociais radicalmente novas, impostas pela sociedade capitalista, fizeram com que a sociedade passasse a se constituir em "problema". Diante disso, pensadores ingleses da época procuraram extrair dessas novas situações temas para a análise e a reflexão, no objetivo de agir, tanto para manter como para reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo. Isto foi fundamental para a formação e a constituição de um saber sobre a sociedade. Outra circunstância que também influenciou e contribui para a formação da sociologia se deve às transformações ocorridas nas formas de pensamento, originadas pelo Iluminismo.
As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou desde o século XVI, provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. A partir daí, o pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a explicação dos fatos da natureza e passa a ser substituído pelo uso da razão.
O emprego sistemático da razão representou um avanço para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da revelação e para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura. Essas novas maneiras de produzir e viver, propiciaram um visível progresso das formas de pensar e contribuíram para afastar interpretações baseadas em superstições e crenças infundadas, abrindo conseqüentemente um espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos histórico-sociais.
Esta crescente racionalização da vida social não era um privilégio somente de filósofos e homens que se dedicavam ao conhecimento, mas também, do homem comum dessa época, que renunciava cada vez mais os fatos submetidos às forças sobrenaturais, passando a percebê-los como produtos da atividade humana, passíveis de serem conhecidos e transformados.

Contribuição da revolução francesa
A revolução francesa contribuiu para o surgimento da Sociologia na medida em que o objetivo dessa revolução era mudar a estrutura do Estado monárquico e, ao mesmo tempo, abolir radicalmente a antiga forma de sociedade; promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural, etc; além de desferir seus golpes contra a Igreja. Tais atitudes ocasionaram profundos impactos, causando espanto aos pensadores da época e à própria burguesia, já instalada no poder. Diante disso, esses pensadores se incumbem à tarefa de racionalizar a nova ordem e encontrar soluções para o estado de "desorganização" então existente. Mas, para estabelecer esta tarefa seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem os fatos sociais e instituir uma ciência da sociedade.
Assim, pensadores positivistas da época concluíram que, para restabelecer a organização e o aperfeiçoamento na sociedade, seria necessário fundar uma nova ciência. Essa nova ciência assumia, como tarefa intelectual, repensar o problema da ordem social, ressaltando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. A oficialização da sociologia foi, portanto, em larga medida, uma criação do positivismo que procurará realizar a legitimação intelectual do novo regime.
Foram as idéias desenvolvidas por incontáveis homens e mulheres, ao longo da história humana, que começa na Mesopotâmia e no Egito a mais de quatro mil anos antes do nascimento de Cristo, que reunidas, trabalhadas e revistas, formaram o que hoje temos como CONHECIMENTO em todas as áreas da vida.
A Sociologia foi o resultado da união de inúmeros pensadores, nas diversas partes do mundo. Alguns se conheciam, muitos outros nunca se viram. Uns complementando outros, até formar o que conhecemos como ciência sociológica ou ciência da sociedade ou Sociologia. Destes tantos, quatro pensadores foram responsáveis por estruturar os fundamentos da Sociologia possibilitando criar três linhas mestras explicativas, fundadas por eles e aos quais iremos estudar com mais profundidade:
1) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comte ( França, 1798 —1857) e seu principal expoente clássico Émile Durkheim ( França, 1858 – 1917 ), de fundamentação analítica;
2) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber ( Alemanha, 1864 – 1920 ), de matriz teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e
3) a Sociologia dialética, iniciada por Karl Marx ( Inglaterra, 1818 – 1883 ) que mesmo não sendo um sociológo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica.

UNIDADE III – O PRECURSOR DA CIENCIA SOCIOLOGICA - OCIDENTE EUROPEU

AUGUSTE COMTE
O núcleo da filosofia de Comte radica na idéia de que a sociedade só pode ser convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem. Ele achava que antes da ação prática, seria necessário fornecer aos homens novos hábitos de pensar de acordo com o esta¬do das ciências de seu tempo. Por essa razão, o sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos : em primeiro lugar, uma filosofia da história com o objetivo de mostrar as razões pelas quais uma certa maneira de pensar (chamada por ele filosofia positiva ou pensamento positivo) deve imperar entre os homens. Em segundo lugar, uma fundamentação e classificação das ciências baseadas na filosofia positiva. Finalmente, uma sociologia que, deter¬minando a estrutura e os processos de modificação da sociedade permitisse a reforma prática das instituições.
A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna.
O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. O termo positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão, o preciso em oposição ao vago. É o que se opõe as formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo.
Ex: a explicação da queda de um objeto ou corpo: o primitivo explicaria a queda como uma ação dos deuses; o metafísico Aristóteles explicaria a queda pela essência dos corpos pesados, cuja natureza os faz tender para baixo, onde seria seu lugar natural; Galileu, espírito positivo, não indagaria o porquê, não procuraria as causas primeiras e últimas, mas se contentaria em descrever como o fenômeno da queda ocorre.
Não era apenas quanto ao método de investigação que a filosofia positivista se aproximava das ciências da natureza. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.

CARACTERÍSTICAS DO POSITIVISMO
A realidade é formada por partes isoladas, de fatos atômicos; a explicação dos fenômenos se dá através da relação entre eles; não se interessa pelas causas, mas pelas relações entre os fenômenos; rejeição ao conhecimento metafísico; há somente um método para a investigação dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são regidos por leis invariáveis.
Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termos dos deuses e dos espíritos; depois através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações estavam nos termos das essências, de causas finais, e de outras abstrações; e finalmente para o estágio positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das limitações do conhecimento humano.

LEI DOS TRES ESTADOS - características
Estado Teológico Estado Metafísico Estado Positivo
- tudo tem origem no sobrenatural
- época dos sacerdotes e militares
- domínio da organização militar - tudo tem origem na razão, na natureza e em forças misteriosas|
- época jurídica
- prevalece a organização jurídica - A base é a pesquisa científica.
As explicações são dadas pela ciência.
Busca-se compreender as coisas e
acontecimentos através da observação científica e da razão, formulando leis.
O estágio positivo trata de descrever como se passam os fatos e o conhecimento positivo das leis da natureza, permitem “prever para prover”.
- época industrial
- predomínio do intelectual, principalmente o sociólogo
- a economia se junta à sociologia para, juntas, guiarem os destinos da organização social

Comte tentou também uma classificação das ciências, baseada na hipótese de que as ciências tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios simples e abstratos, para daí chegarem à compreensão de fenômenos complexos e concretos.
Assim as ciências haviam se desenvolvido a partir da matemática, da astronomia, da física, e da química para atingir o campo mais complexo da biologia e finalmente da sociologia.
De acordo com Comte, esta última disciplina, a Sociologia, não somente fechava a série mas também reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o conhecimento humano, como ápice de toda a ciência.
A Sociologia de Comte divide a sociedade em duas partes: estática e dinâmica.

ESTÁTICA
DINÂMICA

 Compreende as condições de vida da sociedade
 Se refere à ordem
 Teoria da ordem e harmonia  Compreende o contínuo movimento da sociedade
 Se refere ao progresso
 Teoria do progresso e da evolução

Embora não fosse dele o conceito de sociologia ou da sua área de estudo, Comte ampliou seu campo e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática social, ou o estudo das forças que mantêm unida a sociedade; e Dinâmica social, ou o estudo das causas das mudanças sociais.

Estudo da estática social = ordem
O estudo da estática social deve ser iniciado com o entendimento do consenso social, que é a interdependência social ou interpenetração dos fenômenos sociais. Segundo Comte os fenômenos sociais só podem ser estudados em conjunto porque eles são fundamentalmente conexos. E é pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia Social.
A sociedade é composta de unidades chamadas de células sociais. Essas células são famílias e não indivíduos. A família, portanto, é a verdadeira unidade social por ser a associação mais espontânea que existe. Ela é a fonte espontânea da educação moral e constitui a base natural da organização política.
A sociedade deve ser organizada com base no "organismo doméstico", que tem como características principais:
 subordinação - subordinação espontânea da mulher ao homem e dos filhos aos pais
 união - a família é possível graças a união de seus membros
 cooperação - a sociabilidade no meio familiar é possível graças à cooperação
 altruísmo - o sentimento familiar desenvolve o prazer de fazer pelo outro e para o outro.
Toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente dos instintos sociais do indivíduo e que se manifesta através da família. Essa ordem exige, para sua sobrevivência, de uma autoridade. Na família essa autoridade é o marido e na sociedade é o governo. Não há sociedade sem governo, nem governo sem sociedade.
O governo deve manter uma intervenção "universal e contínua" na sociedade, de forma material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a inviabilize. Segundo Comte, o progresso enfraquece a união e a cooperação, fragilizando a ordem. Essa é a intervenção do "conjunto sobre as partes".
As forças sociais que determinam as estruturas sociais são a material, a intelectual e a moral. A organização social baseia-se na divisão do trabalho social e na combinação de esforços.

Estudo da dinâmica social = progresso

Todo estado social é uma conseqüência do passado e uma preparação para o futuro. Não há espaço para quaisquer vontades superiores. As leis que regem o estado social são leis análogas às leis biológicas. E exatamente por essa analogia conclui-se que a humanidade caminha para a completa autonomia, o que ocorrerá quando for ultrapassada a sua etapa metafísica.
Mas nada é eterno! A evolução da sociedade, da mesma forma que no indivíduo, leva-a para o inevitável caminho da decadência final.
No início a humanidade assumiu a fase teológica ou fictícia, que foi uma fase provisória, mas o ponto de partida necessário para todo o processo cultural.
A segunda fase é a metafísica ou abstrata, que é transitória, onde os agentes sobrenaturais são substituídos por força abstratas, entendidas como seres do mundo.
A terceira fase é a positiva, científica ou real, que é a fase definitiva da humanidade, quando o homem descobre a impossibilidade de obter conhecimentos absolutos e desiste de indagar sobre a origem e a finalidade do universo, assim como sobre as causas íntimas dos fenômenos. O homem passa a se preocupar apenas em descobrir as leis efetivas que estabelecem as relações invariáveis de sucessão e semelhança. Estuda-se as leis a abandona-se a pesquisa das causas.

Problema fundamental do estado positivo: conciliação da ordem com o progresso, que é a condição necessária ao aparecimento do verdadeiro sistema político.
Toda ordem estabelecida deverá ser compatível com o progresso, assim como todo progresso, para ser realizado, deverá permitir as consolidação da ordem.
O estado positivo significa o fracasso da Teologia e da Metafísica. Em seguida virá o domínio do Positivismo e da Sociologia, fazendo surgir a "Religião da Humanidade", com o predomínio do altruísmo e da harmonia social.

CONTEXTO SOCIAL DO SÉC. XIX
Qual era o contexto social, político e econômico no século XIX?

Brasil: uma sociedade em contradição

O séc. XIX, é o período das revoluções burguesas. Algumas imagens do Brasil ilustram o processo de mudança nas relações sociais, principalmente no sistema escravista. É um período em que novas tecnologias, novos conhecimentos, novas formas de pensar, revolucionaram, mudaram posturas, vestuário, e tudo o mais que se refere a sociedade.
No séc. XXI, ainda podemos ver vestígios materiais e de formas de pensar dos séc. XIX e XX, porém, definitivamente a sociedade mudou e continua em processo de mudança.
A “mudança”, como fenômeno, é algo que surge no decurso de um conjunto de alterações, provocadas pela ruptura com valores ou pressupostos que se passam a considerar insuficientes ou inadequadas, para fazer face aos novos desafios no sentido da concretização de metas comuns a um grupo de pessoas ou apenas idealizadas por um sujeito.
As revoluções, são mudanças de valores e formas de existir em sociedade, que não se sustentam mais. E se faz necessário compreender as inovações que surgem. Daí a importância de pensadores que problematizando as questões sociais, vão buscar soluções que apontem para a harmonia, o equilíbrio social.

O séc. XIX será marcado pelos seguintes acontecimentos no Brasil e no mundo:
• Consolidação do capitalismo como sistema econômico
• Expansão territorial e imperialista dos EUA
• Neocolonialismo europeu: partilha da África, Ásia e América Latina – Disputa pelos mercados coloniais
• Auge da escravidão, como sistema econômico disseminado no mundo
• Triunfo do Liberalismo como ideologia econômica
• Império na França ( 1799 – 1815 ) de Napoleão Bonaparte ( 1769 – 1821 )
• Congresso de Viena ( 1814 – 1815 ) e a reorganização das fronteiras
• Unificação da Itália ( 1860 ) e Alemanha ( 1870 )
• Vinda da corte portuguesa para o Brasil ( 1808 )
• Início do processo de industrialização no Brasil ( 1819 )

REVENDO O POSITIVISMO
Ciência criada por Auguste Comte, o Positivismo, vai influenciar seus predecessores, principalmente Émile Durkheim, considerado pai da Sociologia.
Como muitos dos filósofos da época, Comte alarmou-se com os efeitos da Revolução Francesa e com a desordem social, neste período de mudanças sociais.
Desde cedo a sua principal preocupação passou a ser o aprimoramento da sociedade. Julgava ele que para tal aprimoramento, fazia-se necessária uma ciência teórica da sociedade. Não dispondo de tal ciência, resolveu criá-la.
Na trilha de Saint-Simon, Condorcet e dos utopistas do começo do século, seguia a idéia básica de aplicar o método científico ao estudo dos fatos sociais, tornando a sociologia uma ciência “positiva”.
No início do século XIX o clima intelectual da França era de orgulho pelas conquistas das ciências matemáticas e naturais e, quanto aos assuntos sociais, acreditava-se na existência de leis sociais similares às leis das ciências naturais.
Comte afirmava que, se temos uma física celeste, uma física terrestre, uma física vegetal e uma física animal, desejamos uma física social.
A física social teria por objeto o estudo dos fenômenos sociais, considerados sob o mesmo prisma dos fenômenos físicos e químicos. Mais tarde chamou sua física social de Sociologia.
O Positivismo foi uma doutrina filosófica elaborada por ele que propõe um conhecimento científico baseado na observação, comparação e experimentação e a ciência como única forma válida de conhecimento.
A ciência, através da razão, é a única explicação legítima da sociedade. Somente pela ciência o homem tem conhecimento e domínio do mundo. O progresso é o dogma supremo do positivismo e o alvo supremo da sabedoria. A ordem deve ser assegurada pela classe ascendente, ou seja, as elites.
No mundo da ordem que garante o progresso os conceitos da soberania popular, igualdade, direitos do homem não são considerados.
A liberdade não existe. Não passa de resultado passageiro da anarquia moderna, pois consagra cada vez mais o individualismo absoluto.
A elite tem mais o papel de reprimir do que de dirigir.
O governo é um organismo ativo encarregado de mostrar o que deve e o que não deve ser feito.
A hierarquia é essencial no projeto positivista. À hierarquia submetem-se os proletários para o bom andamento do progresso.
O regime político consiste na dupla máxima: dedicação dos fortes pelos fracos e veneração dos fracos pelos fortes.
Nenhuma sociedade pode perdurar se os inferiores não respeitarem os superiores.
Sustenta-se na divisão do trabalho e na divisão de classes sociais.
O princípio das classes sociais é natural, necessário e estrutural para a sobrevivência da humanidade.
Importa o alto grau de eficiência e para isto é necessário o controle.
Quem determina, legisla e organiza é o grupo dominante. Administrar os negócios é administrar o povo. As forças sociais preponderantes acabam por se tornar as classes dirigentes.

Influência do positivismo no Brasil :
o REPUBLICA: criação de um Estado para formar a elite e conduzir a nação (Benajmin Constant) – Estado autoritário e centralizador.
o EDUCAÇÃO: o Estado é representado por seus educadores que passam para os alunos os conceitos de obediência e submissão.
o ORDEM IDEAL: é a ordem vigente – mudanças são mal vistas e devem ser evitadas.
o ESTADO: profundamente conservador.
Dando ênfase à hierarquia e obediência, Comte rejeitou a democracia, sustentando que o governo ideal seria constituído por uma elite intelectual. Seu conceito de uma sociedade positiva está no seu “Système de politique positive” ("Sistema de Política Positiva").
Exerceu enorme influência entre as elites intelectuais francesa e brasileira do século XIX e XX . É dele que vem o lema "ordem e progresso", que a bandeira brasileira cultiva até hoje no seu centro.

A BANDEIRA DO BRASIL
A Bandeira do Brasil foi adotada pelo decreto no 4 de 19 de novembro de 1889. Este decreto foi preparado por Benjamin Constant, membro do Governo Provisório.
A idéia da nova Bandeira do Brasil deve-se ao professor Raimundo Teixeira Mendes ( 1855 – 1927 ), filósofo e matemático brasileiro nascido em Caxias, MA, presidente do Apostolado Positivista do Brasil. Com ele colaboraram o Dr. Miguel Lemos e o professor Manuel Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica. O desenho foi executado pelo pintor Décio Vilares.
As cores verde e amarelo estão associadas à casa real de Bragança, da qual fazia parte o imperador D. Pedro I, e à casa real dos Habsburg, à qual pertencia a imperatriz D. Leopoldina.
O círculo interno azul corresponde a uma imagem da esfera celeste, inclinada segundo a latitude da cidade do Rio de Janeiro às 12 horas siderais (8 horas e 30 minutos) do dia 15 de novembro de 1889.
Cada estrela representa um estado da federação e todas as estrelas têm 5 pontas. Embora alguns digam que a faixa branca representa a eclíptica, ou o equador celeste ou o zodíaco, na verdade ela representa na nossa bandeira apenas um lugar para a inscrição do lema "Ordem e Progresso". Ela não tem qualquer relação com definições astronômicas.
O lema "Ordem e Progresso" é atribuído ao filósofo positivista francês Augusto Comte, que tinha vários seguidores no Brasil, entre eles o professor Teixeira Mendes.

REAÇÕES AO POSITIVISMO
O Positivismo será duramente criticado pela tradição sociológica e filosófica marxista, principalmente pela Escola de Frankfurt ( Alemanha, séc. XX, 1920 ).
O Positivismo irá fundamentar as teorias racistas, cujos expoentes são Lombroso e Gobineau.
Cesare Lombroso ( 1835 – 1909 ): professor universitário e criminologista italiano. Teve importante papel na Criminologia e a Escola Positiva de Direito Penal. Tornou-se mundialmente famoso por seus estudos e teorias no campo da caracterologia, ou a relação entre características físicas e mentais. Apesar da natureza inconsistente destas teorias, Lombroso foi muito influente na Europa (e também no Brasil) entre criminologistas e juristas. Entre seus livros estão: L'Uomo Delinquente (1876; "O Homem Criminoso") e Le Crime, Causes et Remèdes (1899; O Crime, Suas Causas e Soluções).
Joseph Arthur de Gobineau ( 1816 —1882 ): diplomata, escritor e filósofo francês. Um dos mais importantes teóricos do racismo no século XIX. Se celebrizou como ensaista ao escrever seu "Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas" (1855), seu livro mais célebre, um dos primeiros trabalhos sobre eugenia e racismo publicados no século XIX. Segundo ele, a mistura de raças era inevitável e levaria a raça humana a graus sempre maiores de degenerescência física e intelectual. É-lhe atribuída a frase "Não creio que viemos do macacos mas creio que vamos nessa direção".

UNIDADE IV: ÉMILE DURKHEIM
O sociólogo da ordem

Durkheim ( 1858 – 1917 ) viveu numa época de grandes conflitos sociais entre a classe dos empresários e a classe dos trabalhadores. É também uma época em que surgem novos problemas sociais como favelas, suicídios, poluição, desemprego etc. No entanto, o crescente desenvolvimento da indústria e tecnologia fez com que Durkheim tivesse uma visão otimista sobre o futuro cio capitalismo. Ele pensava que todo o progresso desencadeado pelo capitalismo traria um aumento generalizado da divisão do trabalho social e, por conseqüência, da solidariedade orgânica, a ponto do fazer com que a sociedade chegasse a um estágio sem conflitos e problemas-sociais. Dentro desta lógica, ele traz de Comte, o conceito de consenso social para alcançar este objetivo.
Segundo Comte os fenômenos sociais só podem ser estudados em conjunto porque eles são fundamentalmente conexos, ou seja, estão em conexão uns com os outros. E é pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia Social.
Durkheim, vai buscar a mesma harmonia, admitindo que o capitalismo é a sociedade perfeita; trata-se apenas de conhecer os seus problemas e de buscar uma solução cientifica para eles. Em outras palavras, a sociedade é boa, sendo necessário, apenas, "curar as suas doenças".
Tal forma de pensar o progresso de um jeito positivo fez com que Durkheim concluísse que os problemas sociais entre empresários e trabalhadores não se resolveriam dentro de uma LUTA POLÍTICA, e, sim, através da CIENCIA, ou melhor, da SOCIOLOGIA. Esta seria, então, a tarefa da SOCIOLOGIA: compreender o funcionamento da sociedade capitalista de modo objetivo para observar, compreender e classificar as leis sociais, descobrir as que são falhas e corrigi-las.
Para Durkheim, a sociedade é algo exterior e superior aos indivíduos.
E como está estruturada esta sociedade segundo Durkheim ?
A estrutura da sociedade é formada pelas esferas política, econômica e ideológica. Estas esferas formam a estrutura social responsável pela consolidação do Capitalismo.
Ao refletir sobre a sociedade, Durkheim começou a elaborar algumas questões que orientaram seu trabalho:
1. O que faz uma sociedade ser sociedade ?
2. Qual é a relação entre o indivíduo e a sociedade ?
3. Como os indivíduos transformam o social ?
4. O social é a superação do individual. Em que momento os indivíduos constituem uma sociedade ?
Uma outra preocupação de Durkheim, assim como outros pensadores, era a formação de uma ciência social desvinculada das Ciências Naturais. Além disso na emergência do proletariado, era preciso encontrar formas de controle de tal forma que o indivíduo se integre à ordem. Este princípio será aplicado na educação.
A contribuição de Durkheim foi de importância fundamental para que a Sociologia adquirisse o status de ciência, pois ele estuda a sociedade e separa os fenômenos sociais da Psicologia, construindo um Objeto e um Método.
Para Durkheim, a sociedade, como todo organismo, apresentaria estados normais e patológicos, isto é, saudáveis e doentios.
Durkheim considera um fato social como normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua evolução. Assim, ele afirma que o crime, por exemplo, é normal não só por ser encontrado em qualquer sociedade, em qualquer época, como também por representar a importância dos valores sociais que repudiam determinadas condutas como ilegais e as condenam a penalidades.
Mais adiante, no processo de desenvolvimento dos estudos sociológicos, o sociólogo canadense Erving Goffman ( 1922 - 1982 ), aprofundando a questão do que seja ou não patológico em uma sociedade, escreve sobre o conceito de estigma e suas relações com a formação das identidades individuais. Reflete, também, sobre os denominados ”desvios sociais” vinculando-os às situações estigmatizantes.
A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso social, a vontade coletiva, ou o acordo de um grupo a respeito de determinada questão. Normal, é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que reflete os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população. Patológico é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente. Os fatos patológicos, como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais.

METODO SOCIOLOGICO DE ÉMILE DURKHEIM
1º Regra do Método : tratar o fato social como COISA.

Para Durkheim, o seu método sociológico tinha três características básicas que o distinguiam de seus antecessores na sociologia, como Auguste Comte e Herbet Spencer :
1. Ele é um método independente de toda a filosofia. Ou seja, ele não tem que ter uma vinculação com qualquer visão filosófica ou ideológica do mundo. Ele não precisa afirmar nem a liberdade nem o determinismo; a sociologia, assim, não será nem individualista, nem comunista, nem socialista, no sentido que se dá vulgarmente a estas palavras.
2. É um método objetivo. Segundo Durkheim, ele é um método inteiramente dominado pela idéia de que os fatos sociais são coisas e como tais devem ser tratados.
3. É exclusivamente sociológico. Ou seja, não deriva da forma da filosofia tratar a sociedade, nem da psicologia, e nem das ciências naturais, uma vez que afirma que a sociedade tem uma natureza própria, que não é derivada nem da natureza humana, nem das consciências individuais, nem das constituições orgânicas dos indivíduos.
Para Émile Durkheim, fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder coercitivo e compartilhadas coletivamente. Variam de cultura para cultura e tem como base a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e determinando o que é certo ou errado, permitido ou proibido. Não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos.
Os fatos sociais deveriam ser encarados como coisas, isto é, objetos que, lhe sendo exteriores, poderiam ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu respeito.
Para se apoderar dos fatos sociais, o cientista deve identificar, dentre os acontecimentos gerais e repetitivos, aqueles que apresentam características exteriores comuns.

O social é o entre nós. Onde se dá a interação, troca.

Por que considerar o Fato Social como coisa ?
Para afastar os pré-conceitos, as pré-noções e o individualismo ou seja, seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado.
Três são as características que Durkheim distingue nos Fatos Sociais :
 é geral – se repete em todos os indivíduos. Tem natureza coletiva.
 é exterior – independe da vontade ou adesão consciente do indivíduo.
 é coercitivo – se impõe sobre o indivíduo. Exerce a coerção.

As características do fato social:

1. Coercitividade:
O poder de coerção exercido sobre os indivíduos, é identificado pelas sanções ou resistências a alguma atitude individual contrária e quando é exterior a ele. Ex: A a regra da escola é usar uniforme composto de blusa com logotipo do colégio, calça jeans azul e tênis. Se um aluno chega no colégio de roupa de praia, ele estará em desacordo com a regra e sofrerá sanção por isso, seja voltar para casa ou uma advertência por escrito.
O grau de coerção dos fatos sociais se torna evidente pelas sanções a que o indivíduo está sujeito quando contra elas tenta se rebelar. As sanções podem ser legais ou espontâneas. Legais são as sanções prescritas pela sociedade, sob a forma de leis, nas quais se identifica a infração e a penalidade subsequente. Espontâneas seriam as que aflorariam como decorrência de uma conduta não adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade à qual o indivíduo pertence.
A educação desempenha, segundo Durkheim, uma importante tarefa nessa conformação dos indivíduos à sociedade em que vivem, a ponto de, após, algum tempo, as regras estarem internalizadas e transformadas em hábitos.
2. Exterioridade:
Os fatos sociais atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente, ou seja, eles são exteriores aos indivíduos. As regras sociais, os costumes, as leis, já existem antes do nascimento das pessoas, são a elas impostos por mecanismos de coerção social, como a educação. Portanto, os fatos sociais são ao mesmo tempo coercitivos e dotados de existência exterior às consciências individuais.
3. Generalidade:
É social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles. Desse modo, os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral.
Para se apoderar dos fatos sociais, o cientista deve identificar, dentre os acontecimentos gerais e repetitivos, aqueles que apresentam características exteriores comuns.
O conjunto de atos que suscitam na sociedade reações concretas classificadas como ‘penalidades’ constituem os fatos sociais identificáveis como ‘crime’. Vemos que os fenômenos devem ser sempre considerados em suas manifestações coletivas, distinguindo-se dos acontecimentos individuais ou acidentais. A generalidade distingue o essencial do fortuito e especifica a natureza sociológica do fenômeno.

Consenso Social
Durkheim, acreditava que a harmonia social seria possível através do consenso social, onde há acordo comum entre as partes envolvidas, seja afetivamente, nos pensamentos ou ações. Durkheim acreditava que é o consenso entre indivíduos que cria o coletivo. E a coletividade é fundamental no projeto Ordem e Integração ( do indivíduo com a sociedade ) do capitalismo.
As transformações que se produzem no meio social, sejam quais forem as causas repercutem em todas as direções do organismo social e não podem deixar de afetar mais ou menos, todas as suas funções.
Durkheim não aceita a idéia que diz ser o social formado de processos psíquicos. Durkheim afirma que o social não pertence a nenhum indivíduo mas ao grupo que sofre pressões e sansões sendo obrigado a aceitá-lo.
Partindo do princípio de que o objetivo máximo da vida social é promover a harmonia da sociedade consigo mesma e com as demais sociedades, e que essa harmonia é conseguida através do consenso social, a ‘saúde’ do organismo social se confunde com a generalidade dos acontecimentos e com a função destes na preservação dessa harmonia, desse acordo coletivo que se expressa sob a forma de sanções sociais.
Quando um fato põe em risco a harmonia, o acordo, o consenso e, portanto, a adaptação e evolução da sociedade, estamos diante de um acontecimento de caráter mórbido e de uma sociedade doente.
Na obra ‘As regras do Método Sociológico’, Durkheim definiu o método a ser usado pela Sociologia e as definições e parâmetros para a Sociologia tornar-se uma ciência, separada da Psicologia e Filosofia. Ele formulou o tipo de acontecimentos sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar : os fatos sociais. Estes constituiriam o objeto da Sociologia.
Durkheim coloca que:
1º) Devemos afastar sistematicamente todas as idéias pré-concebidas ou prenoções ao se estudar um fato social:
• Idéia é a representação mental de alguém ou coisa concreta ou abstrata.
• Pré-conceber significa antecipar uma idéia, sem saber ao certo o que é. Ex: naquela escola, dizem, o ensino é fraco; escola pública é sinônimo de má qualidade no ensino; todo político é corrupto, acho que Roberto gosta de vinho suave.
2º) Os fatos sociais devem ser explorados de acordo com os seus aspectos gerais e comuns, evitando suas manifestações individuais. Ex: Aspectos gerais da dengue: A dengue é uma doença febril aguda, causada por vírus, de evolução benigna, na forma clássica, e, grave, quando se apresenta na forma hemorrágica. A manifestação individual da dengue varia de pessoa para pessoa. Uma pessoa pode ter dengue hemorrágica enquanto outra pode ter dengue simples.
3º) Para explicar um fenômeno social devemos separar dois estudos: o da sua causa e o da sua função. Ex: qual a função do professor na escola? Qual é a causa do desinteresse do aluno pelo conteúdo oferecido na escola?
4º) A pesquisa da causa que determina o fato social deve ser feita entre os fatos sociais anteriores e nunca entre os estados de consciência individual.
Ex: em dada comunidade, há histórico de violência doméstica. Os relatos anteriores e atuais, determinaram ser a violência doméstica um fato social naquela comunidade e não somente um caso isolado ou individual.
5º) Devemos buscar a origem primeira de todo processo social de alguma importância na constituição do meio social interno.
Meio social interno é a família, grupo da escola, o ambiente em que a pessoa se desenvolve. A interação entre a pessoa e o meio ambiente representa a dinâmica da vida. É um processo de ação e reação a estímulos positivos ou não e que serão responsáveis pelo despertar ou bloqueio das potencialidades da pessoa.
Processo social é qualquer mudança ou interação social em que é possível destacar uma qualidade ou direção contínua ou constante. Produz aproximação ( cooperação, acomodação, assimilação ) ou afastamento ( competição, conflito ).

O Todo se manifesta numa parte. O Todo é mais do que a soma das partes,
porque a consciência coletiva passa pela individualidade mas vai além desta individualidade.

Durkheim no livro ‘Da divisão do trabalho social’, reconhecia a existência de duas consciências. Segundo ele :
"...em cada uma de nossas consciências há duas consciências: uma, que é conhecida por todo o nosso grupo e que, por isso, não se confunde com a nossa, mas sim com a sociedade que vive e atua em nós; a outra, que reflete somente o que temos de pessoal e de distinto, e que faz de nós um indivíduo. Há aqui duas forças contrárias, uma centrípeta e outra centrífuga, que não podem crescer ao mesmo tempo".

Para Durkheim, o social é modelado pela Consciência Coletiva , que é uma realidade social resultante do contato social. Essa consciência difere da consciência individual , pertencendo a todos enquanto integrados e a nenhum em particular. Os fenômenos sociais refletem a estrutura do grupo social que os produz ( idéia da Sociologia Moderna).
Se a sociedade é o corpo, o Estado é o seu cérebro e por isso tem a função de organizar essa sociedade, reelaborando aspectos da consciência coletiva.
Para Durkheim, a sociedade capitalista esta cheia de problemas. Para ele, o Estado é uma instituição que tem o dever de elaborar leis que corrijam os casos patológicos da sociedade.
Se cabe a Sociologia observar, entender e classificar os casos patológicos, procurando criar uma nova moral social, cabe ao Estado colocar em pratica os princípios dessa nova moral.
Neste contexto, a Sociologia e o Estado complementam-se na organização da sociedade para, na prática, evitarem os problemas sociais. Isso levou Durkheim a acreditar que os sociólogos devessem ter uma participação direta dentro do Estado.
Para Durkheim, a Sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar as diversas sociedades. Constituiu assim o campo da morfologia social ou seja, a classificação das espécies sociais.

MORFOLOGIA SOCIAL – AS ESPECIES SOCIAIS

 Morfologia: estudo das formas
 Morfologia social: estudo das estruturas ou das formas de vida social; para Durkheim: classificação das “espécies” sociais (inspiração na biologia)

Evolução das sociedades :

 Ponto de partida: a horda é o agrupamento social primitivo, em que todos os membros usufruíam de condições iguais.
 Evolução: são as várias combinações, de que resultaram outras “espécies” sociais, identificáveis no passado e no presente (clãs, tribos, castas etc)
 Trabalho científico de classificação das sociedades:
 procedimento: observação experimental
 resultado: “descoberta” de que o motor de transformação de toda e qualquer sociedade seria a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica.

SOLIDARIEDADE → o que liga as pessoas

É importante salientar que em Durkheim, o conceito de solidariedade, não tem os significados usuais de fraternidade, ajuda, assistência, filantropia e outros. Para ele, a solidariedade é uma forma de reconhecer a limitação humana individual, onde a pessoa se completa através de uma relação de interdependência que se concretiza na divisão do trabalho social.
Basta uma rápida observação do contexto histórico do século XIX, para se perceber que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis, desempregados, doentes e marginalizados.
Ora, numa sociedade integrada essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou de outra, toda a sociedade estava ou iria sofrer as consequências.
Durkheim acreditava que a sociedade, funcionando através de leis e regras já determinadas, faria com que os problemas sociais não tivessem sua origem na economia ( forma pela qual as pessoas trabalham ), mas sim numa crise moral, Isto é, num estado social em que várias regras de conduta não estão funcionando. Por exemplo: se a criminalidade aumenta a cada dia é porque as leis que regulamentam o combate ao crime estão falhando, por serem mal formuladas. A este estado de crise social onde as leis não estão funcionando, Durkheim denomina patologia social. Por outro lado, os problemas sociais podem ter sua origem também na ausência de regras, o que por sua vez se caracterizaria como anomia.
Elaborado por Durkheim, o conceito de anomia social seria o enfraquecimento das normas sociais de um povo ou grupo social; a desorganização que enfraquece a integração dos indivíduos, deixando-os sem saber como agir, ficando sem uma regulamentação por um período de tempo, indeterminado ou determinado.
Ficando à deriva, inconscientes no processo, perdendo quase que por total sua consciência e identidade.
A anomia, seria ainda, um estado de falta de objetivos provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno. Foi a partir do surgimento do capitalismo e da tomada da razão como forma de explicar o mundo que houve o rompimento brusco de valores tradicionais ligados fortemente à concepção religiosa. A Modernidade, em seus intensos processos de mudança, muitas vezes não fornecia novos valores que preenchessem os anteriores demolidos. Isso dava uma espécie de vazio de significado no cotidiano de muitos indivíduos. Durkheim emprega este termo para mostrar que algo na sociedade não funciona de forma harmônica. Algo desse corpo está funcionando de forma patológica ou "anomicamente". Em seu famoso estudo sobre o suicídio, Durkheim mostra que os fatores sociais exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos com comportamento suicida, e anomia.
Frente a patologia social ( regras sociais falhas ), cabe à Sociologia captar suas causas, procurando evitar a anomia ( crise total ), através da criação de uma nova moral social que supere a velha moral deficiente.
Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim aponta para a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade. A solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada orgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho.
Cada indivíduo ou cidadão será obrigado, através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade, de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não meramente mecânica.
Durkheim através do estudo da solidariedade, apoiando-se em Heráclito ( Grécia, cidade de Éfeso na Jônia, 540 a.C. - 470 a.C. ) e Aristóteles ( Grécia, cidade de Estagira, 384 – 322 a.C.), vai dizer que há sempre um processo em direção ao consenso, onde não há conflito.
A influência de Aristóteles está em seus estudos sobre a amizade entre iguais, entre semelhantes. Para Aristóteles, a contradição é um erro. Já Heráclito escreve sobre os diferentes e a aproximação que se dá pelas diferenças. Ele diz que a contradição é construtiva e é a essência das coisas. Estas concepções se complementam e são os parâmetros filosóficos que fundamentam as teorias não só de Durkheim, mas de outros pensadores como Hegel, Marx, Piaget e Freud.
Quando a consciência coletiva é abalada, a punição deve ser aplicada. O indivíduo deve seguir a consciência coletiva, as regras.
Nas sociedades simples, os indivíduos são a extensão do coletivo, da coletividade. A consciência individual se dilui, se perde na coletividade. E isso se dá naturalmente.
Nas sociedades complexas, o consenso se dá através do contrato, da contratualidade e tem a ver com a especialização.
A solidariedade neutraliza uma possível barbárie na civilização. Como resultado da divisão do trabalho social a sociedade obtém:
1) aumento da força produtiva
2) aumento da habilidade do trabalho
3) permite o rápido desenvolvimento intelectual e material das sociedades
4) integra e estrutura a sociedade mantendo a coesão social e tornando seus membros interdependentes
5) traz equilíbrio, harmonia e ordem devido a necessidade de união pela semelhança e pela diversidade
6) provoca a solidariedade social
Durkheim mostra em seu livro que :
 a solidariedade é o fundamento da civilização, pois ela interliga as pessoas ;
 o trabalho não existe sem solidariedade ;
 solidariedade significa função, união, independente de ser boa ou má ;
 existem dois tipos de solidariedade : mecânica e orgânica.

DA SOLIDARIEDADE MECANICA A SOLIDARIEDADE ORGANICA

Solidariedade Mecânica : é a solidariedade por semelhança.
Predominante nas sociedades pré-capitalistas ( primitivas, antigas, asiáticas, feudais ):
- influência marcante do peso coercitivo da consciência coletiva, que moldava os indivíduos através da família, da religião, da tradição e dos costumes;
- maior independência e autonomia individual em relação à divisão do trabalho social
Os membros da sociedade em que domina a Solidariedade Mecânica estão unidos por laços de parentesco.
O meio natural e necessário a essa sociedade é o meio natal, onde o lugar de cada um é estabelecido pela consangüinidade e a estrutura dessa sociedade é simples.
O indivíduo, nessa sociedade, é socializado porque, não tendo individualidade própria, se confunde com seus semelhantes no seio de um mesmo tipo coletivo.
Na solidariedade mecânica, o direito é repressivo ( Penal ). Crime é tudo aquilo que diz respeito a consciência coletiva, ao consenso. O crime é, o rompimento de uma solidariedade social. Todo ato criminoso é criminoso porque fere a consciência comum, que determina as formas de solidariedade necessárias ao grupo social.
Não reprovamos uma coisa porque é crime, mas sim é crime porque a reprovamos. A solidariedade social representada pelo Direito Penal é a mais elementar, espontânea e forte.

Solidariedade Orgânica : é a solidariedade por dessemelhança. É típica das sociedades capitalistas.
Tem por características:
 Grande interdependência entre os indivíduos, como resultado da acelerada divisão do trabalho. Essa interdependência é o principal elo de união social, ao invés das tradições, dos costumes e dos laços sociais mais estreitos  tendência a uma maior autonomia individual, pela especialização de atividades
 Influência menor da consciência coletiva, portanto.
A solidariedade orgânica é fruto das diferenças sociais, já que são essas diferenças que unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência. Os membros da sociedade onde predomina a Solidariedade Orgânica estão unidos em virtude da divisão do trabalho social.
O meio natural e necessário a essa sociedade é o meio profissional, onde o lugar de cada um é estabelecido pela função que desempenha e a estrutura dessa sociedade é complexa. O indivíduo, nessa sociedade é socializado porque, embora tenha sua individualidade profissional, depende dos demais e por conseguinte, da sociedade resultante dessa união.
Na solidariedade orgânica, o direito é restitutivo, cooperativo. O Direito Restitutivo cooperativo é preventivo. Evita, previne a repressão, a dor. O contrato é uma forma de prevenir que a transgressão seja muito grande. Quanto mais civilizada for uma sociedade, maior o número de contratos, que servirá para prevenir desobediências.
Os costumes são a fonte do direito, mas tudo aquilo que é mais importante para a consciência coletiva, torna-se regra.
Podemos tornar estes conceitos mais fáceis de serem entendidos a partir de um exemplo: imaginemos um professor que necessite formar grupos para desenvolver o tema da aula. O professor pode querer a formação dos grupos a partir de dois critérios: ele pode pedir nos alunos que formem grupos livremente, a partir da amizade existente entre eles. Uma segunda opção é pedir aos alunos para formarem grupos de forma que em cada um dos grupos fique uma pessoa que saiba datilografia, uma outra que saiba desenhar, outra que tenha experiência de redação, e, por fim, uma que domine bem o conteúdo das aulas que seja o coordenador do grupo.
No primeiro caso, o que uniu os alunos no grupo foi um sentimento, a amizade, de onde teríamos a solidariedade mecânica. No segundo caso, o que uniu os alunos em grupo foi a dependência que cada um tinha da atividade do outro: a união foi dada pela especialização das funções, de onde teríamos a solidariedade orgânica.
Durkheim admite que a solidariedade orgânica é superior à mecânica, pois ao se especializarem as funções, a individualidade de certo modo, é ressaltada, permitindo maior liberdade de ação.
No grupo formado por amigos, pode acontecer que um elemento discorde muito das opiniões de outro; este fato pode trazer um conflito que põe em risco a existência do grupo. Nesse caso, os elementos devem agir do acordo com as idéias comuns do grupo, e não a partir das suas próprias idéias. Já no grupo onde a união dá-se pela atividade especializada, a individualidade é ressaltada, pois, dentro da sua atividade, cada um age como bem entende, e aí a divergência de opiniões não põe em causa a existência do grupo.
SÍNTESES E EXERCÍCIOS
UNIDADE I : INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA
SINTESE DA UNIDADE
 O estudo da Sociologia começa na existência dos grupos sociais.
 A Sociologia faculta o conhecimento mais aprofundado da sociedade.
 É necessário compreender o contexto social e histórico em que se vive.
 A Sociologia proporciona o confronto com realidades culturalmente distintas.
 O aspecto humano da Sociologia está em desenvolver nova atitude cognitiva no indivíduo.
 O drama concreto que se desenrola entre as pessoas é resultante de uma configuração específica da sociedade.
 As Ciências Sociais se preocupa em organizar, sistematizar, pesquisar e compreender os processos e dinâmicas de todas as sociedades humanas.
 O redimensionamento do conhecimento adquirido na vivência social, deve levar você a mudar o seu ‘olhar pessoal’ para um ‘olhar social’.
 O olhar social (distanciado), deve facilitar a compreensão de sua realidade, desenvolvendo pensamento e postura crítica diante desta realidade e facilitar a compreensão dos processos históricos, responsáveis pela formação dos PADRÕES CULTURAIS .

EXERCICIOS DE FIXAÇÃO
1. Responda:
a) Qual é a preocupação das Ciências Sociais?
b) Qual é o objetivo das Ciências Sociais?
c) Por que o distanciamento é necessário na pesquisa sociológica?
d) O conhecimento, organizado dentro de parâmetros científicos leva o aluno a que atitude?

2. Relacione:
a) Sociologia ( ) desenvolvimento de atitude cognitiva
b) Olhar social ( ) estudo de grupos sociais
c) Aspecto humano da sociologia ( ) postura crítica

3. Responda:
a) Que possibilidades o estudo da Sociologia traz para o aluno que se escolariza?
b) Segundo Flávio M. Sarandy, qual contribuição a Sociologia pode dar?
c) Como a Sociologia pode contribuir para a formação humana?
d) Quando é que a Sociologia cumpre sua finalidade pedagógica?

UNIDADE II : HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA

SINTESE DA UNIDADE
 A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições.
 Enquanto o indivíduo isolado é estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de tamanhos diversos, e interagem no interior desses grupos.
 A Sociologia tem na Filosofia e História, os fundamentos para o desenvolvimento de suas teorias.
 Alguns pensadores estudaram os fatos humanos segundo as coordenadas das ciências naturais. Outros, ao contrário, afirmaram a necessidade de uma metodologia própria.
 O conhecimento dos fenômenos naturais é um conhecimento de algo externo ao próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que se procura conhecer é a própria experiência humana ( interna ).
 As ciências exatas partem da observação sensível e são experimentais, procurando obter dados mensuráveis ( quantitativos ) e regularidades estatísticas (que podem ser reproduzidos).
 As Ciências Naturais tem como método a explicação.
 As ciências humanas, dizendo respeito à própria experiência humana, são introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procuram atingir descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do espírito.
 O humanismo não separa homem e Natureza, mas considera o homem um ser natural diferente dos demais, manifestando essa diferença como ser racional e livre, agente ético, político, técnico e artístico.
 A humanidade, segundo Comte, atravessa três etapas progressivas, indo da superstição religiosa à metafísica e à teologia, para chegar, finalmente, à ciência positiva.
 Os fatos humanos são históricos, dotados de valor e de sentido, de significação e finalidade e devem ser estudados com essas características que os distinguem dos fatos naturais.
 Os positivistas, tinham suas origens na tradição empirista e nos utilitaristas.
 O modo explicativo seria característico das ciências naturais, que procuram o relacionamento causal entre os fenômenos. A explicação consiste na atribuição de uma causa eficiente a um determinado evento, e é o mecanismo básico de constituição da ciência moderna, pois todo o progresso das ciências empíricas se baseou na eficácia da explicação dos fenômenos.
 A compreensão seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente, mas visam aos processos permanentemente vivos da experiência humana e procuram extrair deles seu sentido.
 Nas várias formas de compreensão do mundo, de nós próprios e do outro, passa-se por um conjunto de significados embutidos na cultura, na língua, no não-dito e na pluralidade de elementos.
 A noção de compreensão corresponde ao modo básico de orientação do homem no mundo histórico-social.
 A compreensão está pressuposta em toda ação humana.
 A compreensão também se dá em três dimensões: histórica, religiosa, juízos de valores.
 O mundo físico não é senão uma criação do homem.
 A tarefa de uma ciência do espírito é, conhecer o mundo histórico.
 A realidade física e a realidade psíquica não são senão representações parciais da realidade total da ‘vida humana’.
 Viver é interpretar o mundo natural.
 Dilthey, formula a dualidade das ciências da natureza e ciências do espírito que se distinguem por um método analítico e um procedimento de compreensão descritiva.
 Até por razões emocionais, de alguma forma nos acostumamos a contemplar e a dar palpite sobre os movimentos da sociedade.
 Segundo Ibn Khaldun, precursor das Ciências Sociais, a coesão social é o elemento ordenador do fenômeno social que surge espontaneamente das relações entre as pessoas e os grupos, que pode ser conformado e institucionalizado pela cultura e a religião.
 A Sociologia é uma ciência, característica da sociedade moderna.
 Acontecimentos que influenciaram o surgimento da Sociologia: Iluminismo, revolução industrial, revolução francesa e a queda do antigo regime.
 A crescente industrialização e urbanização, provocou radicais modificações nas condições de existência e nas formas habituais de vida de milhões de seres humanos.
 Pensadores ingleses da época, tinham como objetivo, tanto manter como reformar ou modificar radicalmente a sociedade de seu tempo.
 As transformações econômicas que o ocidente europeu presenciou desde o século XVI, provocaram modificações na forma de conhecer a natureza e a cultura. A partir daí, o pensamento deixa de ter uma visão sobrenatural para a explicação dos fatos da natureza e passa a ser substituído pelo uso da razão.
 O emprego sistemático da razão representou um avanço para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da revelação e para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura.
 A crescente racionalização da vida social não era um privilégio somente de filósofos e homens que se dedicavam ao conhecimento, mas também, do homem comum dessa época, que renunciava cada vez mais os fatos submetidos às forças sobrenaturais, passando a percebê-los como produtos da atividade humana, passíveis de serem conhecidos e transformados.
 O objetivo da revolução francesa era mudar a estrutura do Estado monárquico e, ao mesmo tempo, abolir radicalmente a antiga forma de sociedade e promover profundas inovações na economia, na política, na vida cultural,
 A nova ciência ( Sociologia ) assumia, como tarefa intelectual, repensar o problema da ordem social, ressaltando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade.
 A oficialização da sociologia foi uma criação do positivismo.
EXERCICIOS DE FIXAÇÃO
1. Coloque C para certo e E para errado nas afirmações dadas:
1. A Sociologia está a serviço dos interesses dominantes e dos movimentos revolucionários: __
2. A Sociologia estuda as sociedades humanas: __
3. A Sociologia estuda o indivíduo isolado: __
4. A experiência humana caracteriza o estudo da Sociologia: __
5. Tanto as Ciências Naturais quanto as Ciências Humanas buscam conhecer a experiência externa ao homem: __

2. Complete as frases:
a. Outros pensadores viram a peculiaridade do fato humano e a necessidade de uma ________________ própria.
b. O conhecimento dos fenômenos naturais é um conhecimento de algo _____________ ao próprio homem.
c. As ciências exatas partem da observação _______________.
d. Os positivistas tinham suas origens na tradição _______________ e nos _________________ do séc. XIX.
e. As C. Naturais tem como método a ________________.

3. Quais foram os impactos causados na sociedade pelo Iluminismo, Revolução Industrial, Revolução Francesa e Antigo Regime?
( ) a. familiar, social e econômico
( ) b. ideológicos, econômicos e político
( ) c. religioso, ideológico e cultural

4. Quais foram os fatores que contribuíram na constituição de um saber sobre a sociedade?
( ) a. o advento da cultura e da religião
( ) b. transformações econômicas e ideológicas
( ) c. a revelação dos fatos e da história

5. Uma das características da explicação racional é:
( ) a. o estudo dos fatos baseado na história social
( ) b. a visão mítica dos fatos
( ) c. ver a sociedade como um conjunto de fatos

UNIDADE III : AUGUSTE COMTE
SINTESE DA UNIDADE
 O núcleo da filosofia de Comte radica na idéia de que a sociedade só pode ser convenientemente reorganizada através de uma completa reforma intelectual do homem.
 O sistema comteano estruturou-se em torno de três temas básicos : filosofia da história, filosofia positiva e sociologia que, deter¬minando a estrutura e os processos de modificação da sociedade permitisse a reforma prática das instituições.
 A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna.
 O positivismo se opõe as formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo.
 A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico.
 O positivismo foi chamado também de organicismo.
 Comte disse que há somente um método para a investigação dos dados naturais e sociais. Tanto um quanto outro são regidos por leis invariáveis.
 Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente por três estágios: teológico, metafísico transitório e estágio positivo moderno.
 A classificação das ciências é baseada na hipótese de que as ciências tinham se desenvolvido a partir da compreensão de princípios simples e abstratos, para daí chegarem à compreensão de fenômenos complexos e concretos.
 A Sociologia reduziria os fatos sociais a leis científicas, e sintetizaria todo o conhecimento humano, como ápice de toda a ciência.
 Comte ampliou o campo de estudo da Sociologia e sistematizou seu conteúdo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Estática social e Dinâmica social.
 O estudo da estática social deve ser iniciado com o entendimento do Consenso Social, que é a interdependência social ou interpenetração dos fenômenos sociais.
 É pelo Consenso Social que pode existir a Harmonia Social.
 A sociedade é composta de unidades chamadas de células sociais. Essas células são famílias e não indivíduos.
 A família é a verdadeira unidade social. É a fonte espontânea da educação moral e constitui a base natural da organização política.
 A sociedade deve ser organizada com base no "organismo doméstico", que tem como características principais: subordinação, união, cooperação e altruísmo.
 Toda sociedade deve possuir uma ordem, proveniente dos instintos sociais do indivíduo e que se manifesta através da família.
 Essa ordem exige, para sua sobrevivência, de uma autoridade. Na família essa autoridade é o marido e na sociedade é o governo.
 O governo deve manter uma intervenção "universal e contínua" na sociedade, de forma material, intelectual e moral, para evitar que o progresso a inviabilize.
 Segundo Comte, o progresso enfraquece a união e a cooperação, fragilizando a ordem.
 As forças sociais que determinam as estruturas sociais são a material, a intelectual e a moral.
 A organização social baseia-se na divisão do trabalho social e na combinação de esforços.
 Todo estado social é uma conseqüência do passado e uma preparação para o futuro.
 As leis que regem o estado social são leis análogas às leis biológicas. E exatamente por essa analogia conclui-se que a humanidade caminha para a completa autonomia, o que ocorrerá quando for ultrapassada a sua etapa metafísica.
 Problema fundamental do estado positivo: conciliação da ordem com o progresso, que é a condição necessária ao aparecimento do verdadeiro sistema político.
 Toda ordem estabelecida deverá ser compatível com o progresso, assim como todo progresso, para ser realizado, deverá permitir as consolidação da ordem.
 Estado Positivo significa o fracasso da Teologia e da Metafísica. Em seguida virá o domínio do Positivismo e da Sociologia, fazendo surgir a "Religião da Humanidade", com o predomínio do altruísmo e da harmonia social.
 O século XIX é o período das revoluções burguesas.
 No Brasil, a sociedade se apresenta cheia de contradições.
 A mudança é provocada pela ruptura com valores e pressupostos que não mais dão conta dos novos desafios que emergem na sociedade.
 As revoluções representam a ruptura com valores e formas de existir em sociedade, que não se sustentam mais.
 A principal preocupação de Auguste Comte era o aprimoramento da sociedade.
 A física social, segundo Comte, teria por objetivo o estudo dos fenômenos sociais, considerados sob o mesmo prisma dos fenômenos físicos e químicos.
 A ciência, através da razão, é a única que pode explicar os fenômenos sociais. Somente pela ciência o homem tem conhecimento e domínio do mundo.
 Para Comte, os conceitos de soberania, igualdade, direitos do homem não passam de ficção.
 A liberdade não passa de resultado passageiro da anarquia moderna, pois consagra o individualismo.
 A elite e o governo possuem o papel de reprimir e dirigir a sociedade.
 A hierarquia é essencial e os proletários devem submeterem-se a ela para o bom andamento do progresso.
 O princípio das classes sociais é natural, necessário para a sobrevivência da humanidade.
 Na ideologia positivista, o Estado é conservador, autoritário e centralizador.
 A educação, através da escola e seus professores, é a fonte da obediência e submissão.
 Dando ênfase à hierarquia e obediência, Comte rejeitou a democracia, sustentando que o governo ideal deve ser constituído por uma elite intelectual.
 A bandeira do Brasil foi concebida sob a ideologia positivista. O lema ordem e progresso é de Auguste Comte e foi adotado na bandeira, pelo positivista Teixeira Mendes.
 O Positivismo influenciou as teorias racistas, cujos expoentes são Lombroso e Gobineau.

EXERCICIOS DE FIXAÇÃO DA UNIDADE
1. Relacione uma coluna com a outra:
a) estágio teológico ( ) tudo tem origem no sobrenatural
b) estágio metafísico ( ) tudo tem origem na razão
c) estágio positivo ( ) explicação científica e racional para as coisas

2. Coloque V verdadeiro ou F falso nas afirmativas dadas:
a) Comte classificou as ciências, baseado na hipótese de que as ciências se desenvolveram a partir da compreensão de princípios simples e abstratos: ___
b) Segundo Comte a Sociologia reduziria os fatos sociais a leis científicas: ___
c) Comte ampliou o campo de estudo da Sociologia e sistematizou seu conteúdo: ___

3. Responda:
a) Quais foram os dois campos principais da Sociologia segundo Comte?
b) O que é consenso social?
c) O que a sociedade deve ter para que o progresso, inevitável, não a inviabilize?

4. RELACIONE UMA COLUNA COM A OUTRA:
a) Mudança ( ) resultado da anarquia moderna
b) Positivismo ( ) ruptura com valores considerados inadequados
c) Liberdade ( ) ciência como única forma válida de conhecimento

5. RESPONDA:
e) Como se pode definir o século XIX ?
f) Como se realiza a mudança em uma sociedade?
g) Qual foi a principal preocupação de Comte?
h) Quais foram as ciências que influenciaram os estudos da sociedade?

6. COLOQUE C PARA CERTO E E PARA ERRADO NAS AFIRMAÇÕES DADAS:
6. A física social tem por objeto os fenômenos naturais.: __
7. O Positivismo vê a ciência como única forma válida de conhecimento.: __
8. O Positivismo propõe um conhecimento científico baseado na observação, comparação,.: __
9. No mundo da ordem, os conceitos de soberania são considerados.: __

7. COMPLETE AS FRASES:
a. Comte sustentava que o governo ideal, seria constituído por uma _____________________
b. O lema da bandeira do Brasil, ________________ e _________________ é positivista.
c. O séc. XIX é o período das _____________________________________________
d. A _______________________ é essencial no projeto positivista.

UNIDADE IV: ÉMILE DURKHEIM

SINTESE DA UNIDADE
 Os estudos de Durkheim se concentram nos conflitos sociais, principalmente na classe do empresários e dos trabalhadores.
 O progresso desencadeado pelo capitalismo, traria aumento geral da divisão do trabalho social e da solidariedade orgânica.
 Durkheim pensa o progresso de forma positiva, e vê os problemas sociais como doença a ser curada.
 Através da ciência, da Sociologia, os problemas sociais podem ser resolvidos.
 A tarefa da Sociologia é compreender o funcionamento da sociedade capitalista de modo objetivo para observar, compreender e classificar as leis sociais, descobrir falhas e corrigi-las.
 A estrutura da sociedade é formada pelas esferas política, econômica e ideológica. Estas esferas formam a estrutura social responsável pela consolidação do Capitalismo.
 Para Durkheim, a sociedade, como todo organismo, apresentaria estados normais e patológicos.
 A generalidade de um fato social é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso social, a vontade coletiva.
 Para Durkheim, o seu método sociológico tinha três características básicas: é um método independente de toda a filosofia; é um método objetivo; é exclusivamente sociológico.
 Fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder coercitivo e compartilhadas coletivamente.
 O fato social tem como base, a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e determinando o que é certo ou errado.
 Os fatos sociais deveriam ser encarados como coisas, isto é, objetos que, lhe sendo exteriores, poderiam ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu respeito.
 As três características do fato social são: é geral, é exterior ao indivíduo, tem poder de coerção.
 Durkheim, acreditava que a harmonia social seria possível através do consenso social.
 Nas sociedades complexas, o consenso se dá através do contrato.
 Durkheim afirma que o social não pertence a nenhum indivíduo mas ao grupo que sofre pressões e sansões sendo obrigado a aceitá-lo.
 Os fatos sociais constituem o objeto de estudo da Sociologia.
 Segundo Durkheim, há duas consciências no indivíduo: a consciência coletiva e a consciência individual.
 Durkheim, constituiu o campo da morfologia social ou seja, a classificação das espécies sociais, com o objetivo de comparar as diversas sociedades.
 Durkheim acreditava que a sociedade, funcionando através de leis e regras já determinadas, faria com que os problemas sociais não tivessem sua origem na economia, mas sim numa crise moral.
 A anomia social seria o enfraquecimento das normas sociais de um povo ou grupo social.
 Para curar a sociedade do estado de anomia, Durkheim mostra que o caminho é estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade.
 A solidariedade orgânica é fruto das diferenças sociais, já que são essas diferenças que unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência.

EXERCICIOS DE FIXAÇÃO DA UNIDADE
I. LEIA AS PERGUNTAS E ASSINALE COM X A MELHOR RESPOSTA:

1. Para Durkheim, o que o progresso capitalista traria para a sociedade?
( ) a. dificuldades para a população.
( ) b. aumento da divisão do trabalho social e solidariedade orgânica.
( ) c. diminuição da divisão do trabalho e solidariedade mecânica.

2. Como resolver os problemas sociais na sociedade capitalista?
( ) a. conhecendo seus problemas e buscando soluções científicas para eles.
( ) b. dando trabalho para todos.
( ) c. classificando as leis sociais.
3.Como se resolveriam os problemas entre empresário e trabalhadores?
( ) a. os problemas se resolveriam através da luta política.
( ) b. os problemas se resolveriam com o diálogo entre as classes.
( ) c. os problemas se resolveriam através da ciência, da Sociologia.

II. RESPONDA:
1. Para Durkheim, qual é a tarefa da Sociologia?
2. Como está estruturada a sociedade segundo Durkheim?
3. Quando um fato social pode ser considerado patológico?


III. RELACIONE UMA COLUNA COM A OUTRA:
a) coerção ( ) independe da vontade do indivíduo
b) exterior ( ) leis
c) generalidade ( ) natureza coletiva


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Dicionário do pensamento marxista, Tom Bottomore. RJ: Jorge Zahar, 1988
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia: série Brasil. SP: Ática, 2004
ARANHA, Maria L. de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia. SP: Moderna, 1993
COSTA, Maria C. Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. SP: Moderna, 1998
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. SP: Brasiliense, 1982
Meksenas, Paulo. Sociologia. SP: Cortez, 1994

FONTES NA INTERNET

http://www.iupe.org.br/ass/sociologia/soc-durkheim-escola_sociologica.htm
http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/soc_p.html
http://www.direitonet.com.br/artigos/x/14/48/1448/
http://www.anpocs.org.br/cursosoc.doc
http://redebonja.cbj.g12.br/ielusc/turismo/disciplinas/admin1/grupos/burocrac.htm
http://smurf3.tripod.com/burocracia.html
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=8260
http://www.infonet.com.br/marcosmonteiro/sociologiajuridica/objetodasociologia.doc

UNIDADE V: MAX WEBER

Weber ( 1864 – 1920 ) nasceu e teve sua formação intelectual no período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu país, a Alemanha. Filho de uma família da alta classe média, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecido advogado e desde cedo orientou-o no sentido das humanidades. Weber recebeu excelente educação secundária em línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começou os estudos superiores em Heidelberg; continuando-os em Göttingen e Berlim, em cujas universidades dedicou-se simultaneamente à economia, à história, à filosofia e ao direito.
Concluído o curso, trabalhou na Universidade de Berlim, na qualidade de livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Em 1893, casou-se e; no ano seguinte, tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg, da qual se transferiu para a de Heidelberg, em 1896. Dois anos depois, sofreu sérias perturbações nervosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade em 1903, na qualidade de co-editor do Arquivo de Ciências Sociais (Archiv tür Sozialwissenschatt), publicação extremamente importante no desenvolvimento dos estudos sociológicas na Alemanha. A partir dessa época, Weber somente deu aulas particulares, salvo em algumas ocasiões, em que proferiu conferências nas universidades de Viena e Munique, nos anos que precederam sua morte, em 1920.
A Sociologia weberiana caracteriza-se pelo dualismo racionalismo – irracionalismo:
- Racionalismo: rotina social; estabilidade; tradição; legalidade; continuidade; espírito científico e pragmático do ocidente, sacrificando a espontaneidade da vida aos cálculos e à seleção dos meios, para serem atingidos fins previamente escolhidos.
- Irracionalismo: crenças; mitos; sentimentos; ação carismática.

AÇÃO SOCIAL
Para Weber a sociedade não seria algo exterior e superior aos indivíduos, como em Durkheim. Para ele, a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas ( tem referência mútua ). Por isso, Weber define como objeto da sociologia a ação social.

O que é ação social?
Para Weber ação social é toda ação em que o indivíduo age orientando-se pela ação de outros. Por exemplo um eleitor. Ele define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Ou seja, temos a ação de um indivíduo, mas essa ação só é compreensível se percebemos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores.
Weber dirá que toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo de sentido entre várias ações sociais, teremos então relações sociais.
A ação social, é a conduta humana dotada de sentido. O sentido motiva a ação individual.
Para Weber, cada sujeito age levado por um motivo que se orienta pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade.
O objetivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou reação de outros indivíduos.
A ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre.
É o indivíduo que através dos valores sociais e de sua motivação, produz o sentido da ação social.
A transmissão destes valores comuns de uma geração para outra é chamada socialização, que é uma forma inconsciente de coerção social. Ex. valores sociais: respeito, virgindade, honestidade, solidariedade, etc
Uma das tarefas da educação é socializar o indivíduo, fazendo-o aceitar e internalizar as regras dominantes na sociedade onde vive.
Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais.
A partir dessa definição, Weber afirmará que podemos pensar em diferentes tipos de ação social, agrupando-as de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam suas ações. Assim, ele estabelece tipos de ação social:
1. Ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado.
2. Ação carismática: inova e inobserva tradições. Funda-se na crença de ser seu autor dotado de poderes sobre-humanos e sobrenaturais que agem, livremente, sem fazer caso de normas estabelecidas ou de tradições, estabelecendo novas normas e criando tradições.
3. Ação afetiva: orientada pelas emoções e sentimentos.
4. Ação social racional: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários.
5. Ação política: a finalidade ideal da ação política é a instituição e a perpetuação do poder. Para a instituição e a perpetuação do poder a ação política exerce três tipos de dominação que precisam ser legitimados: carismática, tradicional e legal.

Weber afirma que a Ciência Social que ele pretende exercitar é uma “Ciência da Realidade”, voltada para a compreensão da significação cultural atual dos fenômenos e para o entendimento de sua origem histórica.
O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações.
Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas.

CONHECIMENTO
‘O conhecimento são os acontecimentos pensados, racionalizados, não apenas vividos’.
O que é conhecimento?
 O conhecimento é a relação entre uma consciência e um objeto que se quer conhecer.
 O conhecimento é o saber acumulado pelo homem através das gerações.
 O conhecimento é produto da ação e do pensamento ( que gerou a ação ).
Ex: Tive a idéia de fazer um bolo. Não qualquer bolo. Escolhi fazer um bolo de chocolate. A massa que saiu do forno é o produto da idéia que tive. Meus colegas Clóvis e Andréia, que comeram o bolo, não pensaram, não tiveram a idéia, não racionalizaram criando a receita. Apenas o consumiram.
O conhecimento pode ser:
 concreto: sujeito estabelece relação com objeto individual. Ex: conhecimento que temos de alguém em particular.
 abstrato: relação estabelecida com um objeto geral, universal. Ex: conhecimento que temos do ser humano, como gênero.
Acontecimentos Pensados: são as idéias que temos das coisas: o pensamento :
• Antes da ação existe a idéia, o pensamento do que se quer fazer.
• O pensamento é organizado com o vocabulário aprendido assim como os conceitos e definições.
• As ações exemplificam este conteúdo aprendido racionalmente através da língua ( portuguesa ).
• As idéias são os pensamentos organizados.
Definição de idéia: representação abstrata de um ser, de um objeto, elaborada pelo pensamento. Ex: idéia do que seja belo ( ideal de beleza ).

TIPO IDEAL
O tipo ideal é uma construção do pensamento e sua característica principal é não existir na realidade, mas servir de modelo para a análise de casos concretos, realmente existentes.
As construções de tipo ideal fazem parte do método tipológico criado por Max Weber. Ao comparar fenômenos sociais complexos o pesquisador cria tipos ou modelos ideais, construídos a partir de aspectos essenciais dos fenômenos.

TIPOS IDEAIS DE DOMINAÇÃO:
 Dominação carismática: legitimada pela fé e pelas qualidades sobrenaturais do chefe
 Dominação tradicional: legitimada pela crença sacrossanta na tradição
 Dominação legal: legitimada pelas leis a partir dos costumes e tornado possível pela burocracia, trazendo a especialização e a organização racional e legal das funções.

DOMINIO LEGAL: BUROCRACIA
O estado moderno, com suas inúmeras atribuições, reclama a existência de uma ampla estrutura organizacional, constituída por funcionários sujeitos à hierarquia e a regulamentos.
Popularmente, o termo burocracia apresenta em geral uma conotação pejorativa, associada à lentidão com que se cumprem os trâmites administrativos e à existência de estruturas, um tanto abstratas, que regem as atividades humanas sem levar em conta as circunstâncias concretas e as necessidades individuais.
Nas ciências sociais, entretanto, a noção de burocracia define, por um lado, a estrutura organizativa e administrativa das atividades coletivas, no campo público e privado, e, por outro, o grupo social constituído pelos indivíduos dedicados ao trabalho administrativo, organizado hierarquicamente, de forma que seu funcionamento seja estritamente regido por rigorosas regras de caráter interno, emanadas da legislação administrativa geral.
Foi no século XVIII, com a crescente importância assumida pelos organismos administrativos, que Jean-Claude Marie Vincent, senhor de Gournay, criou a palavra burocracia, a partir do francês bureau, "escritório", e do grego kratia, "poder". Somente em fins do século XIX, o tema passou a ser estudado dentro de uma perspectiva geral.
“O domínio legal é caracterizado, do ponto de vista da legitimidade, pela existência de normas formais. Do ponto de vista do aparelho, pela existência de um staff administrativo burocrático (grupo qualificado de funcionários pela aptidão e competência, que assiste a um dirigente em entidades públicas e privadas)”.
Weber, portanto, define a burocracia como a estrutura administrativa, de que se serve o tipo mais puro do domínio legal. Segundo Weber, a burocracia possui algumas características que a definem.

Características básicas: a estruturação hierárquica; o papel desempenhado por cada indivíduo dentro da estrutura; e a existência de normas reguladoras das relações entre as unidades dessa estrutura.

Características da Burocracia:
 Caráter legal das normas e regulamentos: é uma organização ligada por normas e regulamentos
 Caráter formal das comunicações: são registradas por escrito
 Divisão racional do Trabalho
 Impessoalidade: relação em nível de cargos, e não de pessoas
 Hierarquia: cada cargo inferior deve estar sob supervisão do cargo automaticamente superior
 Rotina: o funcionário deve fazer o que a burocracia manda; não tem autonomia
 Meritocracia: a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência técnica
 Especialização da Administração: separação entre propriedade e administração
 Profissionalização
 Previsibilidade: prever as ações; através das normas

Disfunções da Burocracia :
 Internalização das regras: as normas passam de "meios para os fins"; os funcionários adquirem uma viseira e esquecem que a previsibilidade é uma das características mais racionais de qualquer atividade
 Excesso de formalismo e papelatório: necessidade de formalizar e documentar todas as comunicações
 Resistência a mudanças
 Despersonalização: os funcionários se conhecem pelos cargos que ocupam
 Categorização como base do processo decisorial: o que possui o cargo mais alto, tomará as decisões independentemente do conhecimento que possui sobre o assunto
 Superconformidade às rotinas
 Exibição de poderes de autoridade
 Dificuldade com clientes: o funcionário está voltado para o interior da organização
 A burocracia não leva em conta a organização informal e nem a variabilidade humana.

A divisão do trabalho em áreas especializadas é obtida pela definição precisa dos deveres e responsabilidades de cada pessoa, considerada não individualmente, mas como um "cargo". Essa definição de cargo delimita determinadas áreas de competência, que não podem ser desrespeitadas em nenhuma hipótese, de acordo com os regulamentos pertinentes. Em situações extremas ou anômalas, recorre-se à consulta "por via hierárquica", ao órgão imediatamente superior.
Essa via, segundo Weber, resulta da absoluta compartimentação do trabalho e da estruturação hierárquica dos diferentes departamentos, de forma racional e impessoal. A legitimação da autoridade não é pessoal, nem se baseia no respeito primário à tradição, como nas relações tradicionais entre superiores e inferiores, mas resulta do reconhecimento da racionalidade e da excelência dos processos estabelecidos. O respeito e a obediência são devidos não à pessoa, nem sequer à instituição, mas sim ao ordenamento estabelecido.
Para Weber, a característica básica de todo o sistema burocrático é a existência de determinadas normas gerais e racionais de controle, que regulam o funcionamento do conjunto de acordo com técnicas determinadas de gestão, visando o maior rendimento possível.
Na realidade, como reconhece Weber, nem todas as organizações administrativas apresentam-se com todas essas características, presentes, no entanto, na grande maioria delas.

UNIDADE VI: KARL MARX

As revoluções burguesas iniciadas no séc. XVIII, se encontravam no início do séc. XIX, ameaçadas pelas forças conservadoras do feudalismo em decomposição, representadas pela nobreza e pelo clero desejosas de restituir o absolutismo e excluir a burguesia do poder político.
Karl Marx nasce neste contexto social, na cidade de Tréves, Alemanha em 1818. Em 1836, se torna doutor em Filosofia em Iena ou Jena, localizada no Estado da Turíngia.
Foi nesta cidade que em 14 de outubro de 1806, aconteceu a Batalha de Jena, onde se enfrentaram o exército francês de Napoleão contra as tropas prússianas comandadas por Frederico Guilherme III da Prússia. Esta batalha, junto com a Batalha de Auerstedt, significou a derrota da Prússia e sua saida das Guerras Napoleonicas até 1813.

As forças revolucionárias eram representadas pela burguesia e pelo crescente proletariado, ambos descontentes com a situação socioeconômica. O embate dessas forças se fez sentir em 1830 e 1848 nos grandes movimentos liberais e nacionais que, iniciados na França, se estenderam pela Bélgica, Polônia, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha.
Em 1842, Marx vai para Paris, França, em plena agitação social. Lá conhece Friedrich Engels, que se torna seu companheiro de idéias e amigo da família. Em 1845 expulso da França, vai para Bruxelas, capital da Bélgica, participar da recém-fundada Liga dos Comunistas.
Em 1848, Marx e Engels ( 1820 – 1895 ) escrevem o Manifesto Comunista, formulando suas idéias a partir da realidade social por eles observada: de um lado o avanço técnico, o aumento do poder do homem sobre a natureza, o enriquecimento e o progresso; de outro e contraditoriamente, a escravização crescente da classe operária, cada vez mais empobrecida.
O manifesto, foi a obra fundadora do marxismo, enquanto movimento político e social a favor do proletariado.
O objetivo de Marx não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social.
A teoria marxista compõe-se de uma teoria científica, o materialismo histórico e de uma filosofia, o materialismo dialético.
Em uma Alemanha agitada e cheia de problemas, surge o marxismo.
Marx desenvolve o materialismo histórico, a corrente mais revolucionária do pensamento social. Ele faz uma leitura crítica da filosofia de Hegel ( Alemanha, 1770 – 1831 ), de quem absorveu e aplicou, de modo peculiar, o método dialético.
Para Hegel, que foi seminarista em Tübingen de 1788 a 1793, o mundo é a manifestação da idéia. Marx e Engels ao contrário, diz que a matéria é a fonte da consciência e esta, reflexo da matéria.

“A contradição é a fonte de toda a vida. Só na medida em que encerra em si uma contradição é que uma coisa se move, tem vida e atividade. Só o choque entre o positivo e o negativo permite o processo de desenvolvimento e o eleva a uma fase mais elevada.” K. Marx

Hegel, contemporâneo de Napoleão Bonaparte teve o privilégio de acompanhar aos 19 anos, todo o processo de desencadeamento da Revolução Francesa e acompanhar a história pessoal de Napoleão ( "o espírito universal a cavalo") até sua morte em 1821, assim como a história do povo francês que insurgiu-se contra o domínio do clero e a nobreza.
Para Hegel, a contradição é o motor do pensamento, ao mesmo tempo em que é o motor da história, já que esta última não é senão o pensamento que se realiza.
Se inspirando em Heráclito e Platão, Hegel divide a Dialética em três etapas:
Tese: indivíduo ou afirmação ( filosofia política) / Idéia ( filosofia do espírito )
Antítese: povo ou a negação da afirmação / Natureza
Síntese: Estado ou negação da negação, que é uma nova afirmação / Espírito ( superação dos opostos )
A interação entre a Tese e Antítese, gerará a contradição, que é a superação dos opostos que se enfrentam.
Para Hegel o ser está em constante transformação.
Há um exemplo muito célebre da dialética hegeliana que será um dos pontos de partida da reflexão de Karl Marx. Trata-se de um episódio dialético tirado da Fenomenologia do Espírito, o do senhor e o escravo.
Dois homens lutam entre si. Um deles é pleno de coragem. Aceita arriscar sua vida no combate, mostrando assim que é um homem livre, superior à sua vida. O outro, que não ousa arriscar a vida, é vencido. O vencedor não mata o prisioneiro, ao contrário, conserva-o cuidadosamente como testemunha e espelho de sua vitória. Tal é o escravo, o "servus", aquele que, ao pé da letra, foi conservado.
a) O senhor obriga o escravo, ao passo que ele próprio goza os prazeres da vida. O senhor não cultiva seu jardim, não faz cozer seus alimentos, não acende seu fogo: ele tem o escravo para isso. O senhor não conhece mais os rigores do mundo material, uma vez que interpôs um escravo entre ele e o mundo. O senhor, porque lê o reconhecimento de sua superioridade no olhar submisso de seu escravo, é livre, ao passo que este último se vê despojado dos frutos de seu trabalho, numa situação de submissão absoluta.
b) Entretanto, essa situação vai se transformar dialeticamente porque a posição do senhor abriga uma contradição interna: o senhor só o é em função da existência do escravo, que condiciona a sua. O senhor só o é porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo e também porque vive do trabalho desse escravo. Nesse sentido, ele é uma espécie de escravo de seu escravo.
c) De fato, o escravo, que era mais ainda o escravo da vida do que o escravo de seu senhor ( foi por medo de morrer que se submeteu ), vai encontrar uma nova forma de liberdade. Colocado numa situação infeliz em que só conhece provações, aprende a se afastar de todos os eventos exteriores, a libertar-se de tudo o que o oprime, desenvolvendo uma consciência pessoal. Mas, sobretudo, o escravo incessantemente ocupado com o trabalho, aprende a vencer a natureza ao utilizar as leis da matéria e recupera uma certa forma de liberdade ( o domínio da natureza ) por intermédio de seu trabalho. Por uma conversão dialética exemplar, o trabalho servil devolve-lhe a liberdade. Desse modo, o escravo, transformado pelas provações e pelo próprio trabalho, ensina a seu senhor a verdadeira liberdade que é o domínio de si mesmo. Assim, a liberdade estóica se apresenta a Hegel como a reconciliação entre o domínio e a servidão.
Marx substitui o conceito de espírito ou idéia, elementos básicos da dialética de Hegel, pelas relações de produção, sistemas econômicos e classes sociais, ou seja, pelas condições materiais de existência, que será objeto de seus estudos.
Marx contraria também a Declaração Universal dos Direitos Humanos elaborada no período iluminista que diz que ‘todos os homens são iguais política e juridicamente e que a liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão’. Ele proclama que não existe tal igualdade natural e observa que o Liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade. Marx tem um visão que difere da de Durkheim, dizendo que não existe consenso, mas sim uma eterna luta de classes.

A FILOSOFIA MARXISTA: MATERIALISMO

Marxismo é o conjunto de idéias filosóficas, económicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores. Interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das sociedades de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.
Os pontos de partida do marxismo são a análise dialética , proposta por Hegel, a filosofia materialista de Ludwig Feuerbach, além da análise crítica às idéias e experiências dos socialistas utópicos franceses e às teorias econômicas dos britânicos Adam Smith e David Ricardo.
Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. O núcleo do pensamento de Marx é sua interpretação do homem, que começa com a necessidade de sobrevivência humana. A história se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de necessidades, trabalha sobre a natureza. À medida que realiza este trabalho, o homem se descobre como ser produtivo e passa a ter consciência de si e do mundo. Percebe-se então que "a história é o processo de criação do homem pelo trabalho humano".
Os dois elementos principais do marxismo são o materialismo dialético, para o qual a natureza, a vida e a consciência se constituem de matéria em movimento e evolução permanente, e o materialismo histórico, para o qual o modo de produção é a base determinante dos fenômenos históricos e sociais, inclusive as instituições jurídicas e políticas, a moralidade, a religião e as artes. Para alguns estudiosos, o termo materialismo dialético, esboçado por Engels e desenvolvido por Lênin e Trotski, é uma expressão inexistente na obra de Marx, que, por sua vez, utilizara apenas o termos dialética e método dialético.

A teoria marxista desenvolve-se em quatro níveis de análise: filosófico, econômico, político e sociológico em torno do conceito central de mudança.

 MATERIALISMO HISTÓRICO
Em 1859, Marx e Engels publicaram o Prefácio da Contribuição à crítica da economia política. Neste prefácio está a formulação de uma teoria empírica, fundada na observação de condições reais do capitalismo emergente e definida como materialismo histórico.
Os conceitos desenvolvidos por Marx em sua teoria são: mercadoria, capital, lei da mais-valia, classes sociais, Estado e ideologia.
Em seu livro mais importante, O Capital, Marx afirmava que a nossa sociedade aparece inicialmente como um grande depósito de mercadorias. Por exemplo: relaciono-me com o padeiro, porque compro seu pão; relaciono-me com o cobrador do ônibus, pois pago a passagem. Tudo acaba sendo mercadoria. O trabalhador vende sua capacidade de trabalhar em troca de um salário e assim por diante.
Marx diz que a estrutura da sociedade está fundamentada na mercadoria, ou seja, a sociedade está estruturada na economia.
Segundo o materialismo histórico, a estrutura econômica de uma sociedade depende da forma como os homens organizam a produção social de bens. Essa estrutura é a verdadeira base da sociedade. É o alicerce sobre a qual se ergue a superestrutura jurídica e política e ao qual correspondem formas definidas de consciência social.
A produção social de bens, segundo Marx, engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção.
As forças produtivas e relações de produção constituem o modo de produção e são as condições naturais e históricas de toda atividade produtiva que ocorre na sociedade.
O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual em geral. Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para se compreender como se organiza e funciona uma sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são consideradas as mais importantes relações sociais. As formas de família, as leis, a religião, as idéias políticas, os valores sociais são aspectos cuja explicação depende, em princípio, do estudo do modo de produção.
A história do homem é portanto, a história do desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de produção. Analisando a história , Marx identificou alguns modos de produção específicos: sistema comunal primitivo, asiático, antigo, germânico, feudal e modo de produção capitalista. Cada qual representa passos sucessivos no desenvolvimento da propriedade privada e do advento da exploração do homem pelo homem.
Fonte: BARBOSA, Leila M. A. & MANGABEIRA, Wilma C. A incrível História dos homens e suas relações sociais. RJ: Vozes, 1982

Em cada modo de produção, a desigualdade de propriedade, como fundamento das relações de produção, cria contradições básicas com o desenvolvimento das forças produtivas.
Ao se desenvolverem, as forças produtivas da sociedade entram em conflito com as relações de produção existentes. Estas relações tornam-se, então, obstáculos para as forças produtivas, nascendo, nesse momento uma época de revolução social.
A mudança da base econômica, gerada pela transformação material das condições econômicas de produção, provocam revoluções jurídicas, políticas, religiosas, artísticas e filosóficas, que são as formas ideológicas que servem aos homens não só para tomar consciência deste conflito, como também para explicá-lo.
Por outro lado jamais aparecem novas relações de produção superiores às antigas antes que as condições materiais de sua existência se tenham desenvolvido completamente no seio da velha sociedade.
Marx diz que as desigualdades sociais são provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, as quais dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção. As desigualdades são a base da formação das classes sociais.
Marx dizia que a história do homem é a história da luta de classes, uma luta constante entre interesses opostos. Por outro lado, as relações entre as classes são complementares, pois uma só existe em relação à outra. Só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos cuja única propriedade é sua força de trabalho, que precisam vender para assegurar a sobrevivência. As classes sociais são, pois, complementares e interdependentes.

 MATERIALISMO E MÉTODO DIALÉTICO
Para os marxistas, o método só é correto quando reflete as leis objetivas da própria realidade. Somente o conhecimento dessas leis permite estudar cientificamente os fenômenos da natureza e da sociedade ( Durkheim, retoma este princípio em seus estudos sobre a sociedade ).
O método deve ser não um conjunto de regras criadas aleatoriamente pelo espírito humano, mas a ciência das leis mais gerais da natureza, da sociedade e do pensamento .
A dialética é o único método cientifico de conhecimento, é a ciência das leis mais gerais do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento, e leva em conta o processo permanente de mudanças, de perene transformação de todas as coisas, do eterno vir-a-ser ( Heráclito e Hegel ). É parte integrante da filosofia marxista e se constitui num guia para a ação revolucionária do partido proletário.
Para o método do Materialismo Dialético a base do desenvolvimento do mundo é objetiva e real, a natureza é material, enquanto que a consciência e as idéias são reflexos do mundo. A oposição entre o método dialético marxista e o método idealista hegeliano expressa a oposição entre as concepções do mundo da burguesia e da classe operária.

"Não é a consciência que determina o ser, mas o ser que determina a consciência"
( K. Marx, Contribuição à Crítica da Economia Política ).

Baseado em Demócrito e Epicuro sobre o materialismo e em Heráclito sobre a dialética (do grego, dois logos, duas opiniões divergentes), Marx defende o materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach.
A dialética hegeliana era a dialética do idealismo ( doutrina filosófica que nega a realidade individual das coisas distintas do "eu" e só lhes admite a idéia ), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera a matéria como a única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambas sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento são as leis da realidade.
Para Hegel, a realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na síntese que é a "verdade" dos momentos superados.
Hegel considerava ontologicamente ( do grego onto + logos; parte da metafísica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais ) a contradição (antítese) e a superação (síntese).
Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a perfeição do que existia ( divinização da estrutura vigente ); Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação.
Adotando a dialética hegeliana, Marx, rejeita o idealismo mas, ao contrário, não procura preservar os valores do cristianismo. Se Hegel tinha identificado, o ser e o dever-ser, encarando a realidade como um desenvolvimento da razão e vendo no dever-ser o aspecto determinante e no ser o aspecto determinado dessa unidade, a dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só tempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a realidade é contraditória com o pensamento dialético. A contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das contradições, identidade: "a dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente (isto é, vir-a-ser) idênticas, como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta." (Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192). Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de verdade, mas também de erro; não se misturam, mas o conteúdo, considerado como unilateral é recaptado e elevado a nível superior.

OS PRINCÍPIOS DA DIALÉTICA SÃO:

 Tudo relaciona-se ( Lei da ação recíproca e da conexão universal ) ;
 Tudo se transforma ( lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante ). As mudanças qualitativas são conseqüências de revoluções quantitativas: Na luta dos contrários, no entrechoque permanente, o velho dá lugar ao novo, com mudanças graduais de quantidade que ao atingirem certa medida, provocam uma mudança de qualidade - salto qualitativo. Na dialética marxista compreende-se como negação a substituição, regida por leis, que se verifica no processo do desenvolvimento, da velha qualidade pela nova qualidade, surgida da velha. Quando há um salto qualitativo o novo nega o velho que, ao envelhecer, é também negado pelo outro novo que lhe sucede, proporcionando mudanças e desenvolvimento ininterruptos, mais lentos às vezes, mais rápidos, outras, mas sempre numa espiral ascendente.

 Unidade e luta dos contrários. A contradição é interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da matéria em relação à consciência; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida material. É uma das leis da dialética e aborda o desenvolvimento da natureza, da sociedade e de pensamento. Segundo Lênin, a lei da unidade e da luta dos contrários - fonte de todo desenvolvimento - é o núcleo, a essência do método dialético. Esta lei afirma que a matéria é o principio de todas as coisas e que ela se encontra em perpétuo movimento, gerado por suas contradições internas, por força da atração e repulsão dos opostos ou contrários, que se chocam e se renovam num eterno vir-a-ser. A divisão do todo em contrários e a sua mútua contraposição ou luta constitui tuna lei universal e fundamental da dialética.
O método dialético marxista e o materialismo filosófico marxista são partes integrantes do Materialismo Dialético. A dialética oferece um método cientifico seguro de conhecimento que permite abordar, de maneira correta e abrangente os mais variados fenômenos, e ainda descobrir as leis objetivas mais gerais que regem a sua evolução. Ele ensina que para estudar os processos da natureza e da sociedade é preciso considerá-los em sua conexão, em seu condicionamento recíproco, em seu movimento e transformação.

Quadro Sinótico das teorias do Materialismo Dialético
Conceitos Karl Heinrich Marx
( 1818 – 1883 ) Ludwig Andreas Feuerbach
( 1804 – 1872 ) Georg Wilhelm Friedrich Hegel ( 1770 – 1831 )
Dialética rejeição ao idealismo ;
rejeita o idealismo e tenta demonstrar as contradições internas e a necessidade de supera-las rejeição ao idealismo de Hegel
idealismo ; cada movimento sucessivo surge como solução das contradições inerentes ao movimento anterior
Filosofia Materialismo ; demonstra as contradições internas da sociedade de classes ; a matéria condiciona a vida do homem. Materialismo; a situação material em que o homem vive é que o cria. Negação do conceito de que exista primeiro a idéia e depois a matéria. perfeição da estrutura social vigente ; a idéia vem primeiro, depois a matéria ; tentativa de considerar todo o universo como um todo sistemático. O sistema é baseado na fé.
Religião não preserva os valores do cristianismo idéia de homem como ser abstrato, homem criou Deus à sua imagem ( antropo-centrismo ), preservação dos valores do cristianismo, homem está fora da sociedade e da história. O homem não deve ser escravo de comandos objetivos: a lei é feita para o homem, porém fica acima da tensão da experiência moral entre a razão e a inclinação porque a lei é para ser cumprida com amor a Deus.

PENSADORES QUE INFLUENCIARAM MARX :
Demócrito de Abdera (460 – 370 ªC.), grego. Iniciou a tradição no pensamento ocidental de explicar o universo em termos mecânicos. Acreditava que toda matéria era composta de pequenas partículas indivisíveis chamadas átomos.
Heráclito de Éfeso (533-475 ªC.), grego. Opô-se ao conceito de uma realidade única e dizia que a única coisa permanente é a mudança.
Epicuro (341 – 270 ªC.), grego. Adepto do atomismo e hedonismo, entendia que o critério da verdade está na sensação.
George Wihelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), alemão. Seu sistema metafísico era racionalista, historicista e absolutista, baseado na doutrina de que “o pensamento e o ser são o mesmo”, e que a natureza é a manifestação de um “Espírito Absoluto”.
Ludwig Feuerbach (1804 –1872), alemão. Argumentava que a religião era uma projeção da natureza humana. Influenciou Marx.
A IDEIA DE ALIENAÇÃO
Em duas de suas obras: “Os “Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844” e “Elementos para a Crítica da Economia Política” (1857-58)”, Marx trata da questão da alienação . Tal termo fazia parte do vocabulário de Feuerbach, para quem a religião era uma alienação, pois, colocando sua essência e sua humanidade num Ser fora de si próprio, no mundo invertido da divindade, o homem vira um ser que não se pertence. Esse é o aspecto religioso da alienação que Feuerbach usa. O homem adora os ídolos que projeta. O próprio Marx afirma que, quanto mais se atribui a Deus, menos sobra para o homem .
Após Marx confrontar a economia política, lançando pela primeira vez o termo “alienação no trabalho” e suas conseqüências no cotidiano das pessoas, Marx expõe a alienação da sociedade burguesa – fetichismo, que é o fato da pessoa idolatrar certos objetos (automóveis, jóias, etc). O importante não é mais o sentimento, a consciência, pensamentos, mas sim o que a pessoa tem. Sendo o dinheiro o maior fetiche desta cultura, que passa a ilusão às pessoas de possuir tudo o que desejam a respeito de bens materiais.
É muito importante também destacar que alienação se estende por todos os lados, mas não se trata de produto da consciência coletiva.
A alienação constrói uma consciência fragmentada, que vem a ser a visão ou concepção que a pessoa têm de um assunto, sem explorar suas multifaces e suas contradições. Ela só percebe, só foca em um determinado aspecto do assunto, sem a devida especulação ou questionamento. Não há senso crítico. A alienação alimenta o dogmatismo, que se baseia em uma verdade única e não questionada.
O termo alienação foi usado também por Hegel, fazendo parte da dialética, pois o homem aparecia em cada etapa da dialética como distinto do que era antes. Louis Althusser ( Birmandreis, 1918 — Paris, 1990, filósofo francês de origem Argelina ), observa que Marx aplicou a teoria da alienação de Feuerbach à política e a economia.
Para Marx, a alienação religiosa seria gerada pela alienação econômica. Tal estado é, para Marx, resultado da realização de o trabalho aparecer como a desrealização do trabalhador. O objeto produzido pelo trabalhador aparece como estranho e independente a ele. As mercadorias existem para suprir necessidades. O sistema capitalista transforma o trabalhador e o trabalho em mercadorias, ao privar o trabalhador dos objetos que produz. Quanto mais ele produz, menos pode possuir. Essas apropriação do objeto pelos possuidores da propriedade, se realiza como alienação do trabalhador. Este, ao pôr sua vida na produção de objetos que não lhe pertencem, perde a posse desta.
Como afirma Marx, "a alienação do trabalhador no seu produto significa não só que o trabalho se transforma em objeto, assume uma existência externa, mas que existe independentemente, fora dele e a ele estranho, e se torna um poder autônomo em oposição com ele" .
Marx critica a economia política de então esconder a verdadeira relação entre o empregado e o empregador. O Estado submete os trabalhadores a seus próprios interesses. O trabalhador ganha um salário que não consegue comprar os produtos que ele próprio produziu. Ele produz coisas para os ricos, mas pouco sobra para ele. Esta é a contradição básica do sistema capitalista na época de Marx. O empregado aparece então apenas como instrumento para o bem estar dos possuidores.
Marx, dialeticamente, oferece um quadro de inversões para as atividades dos trabalhadores: quanto mais produz, menos possui, quanto mais civilizado é o produto feito por ele, tanto mais bárbaro ele se mostra. Nas fábricas as limitações a que o empregado é submetido, como os movimentos repetitivos, as jornadas de trabalho sobre-humanas, o baixo salário, a repressão e outras, apenas evidenciam seu caráter apenas funcional. Ele não transforma mais a natureza para fazer coisas que estão relacionadas a ele, ou que vão beneficiá-lo diretamente. Sua atividade apenas vai garantir que não morra de fome, pois o salário mínimo é a soma das condições mínimas de subsistência (alimentação e moradia).
A alienação para Marx ocorre não na relação do trabalhador com o produto de seus trabalhos, mas também na própria atividade produtiva. Ou seja, o trabalho não pertence à natureza do trabalhador, mas sim é condição para que esse sobreviva minimamente, sendo obrigado a se adequar à condições de trabalho acima descritas. Por esse fato, ele apenas se esgota, e não se realiza na plenitude de suas capacidades mentais e físicas. Como afirma Marx, o trabalho "não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades" . Estas outras necessidades geralmente se reduzem à prioridades mínimas, como alimentação, moradia. O meio para satisfazê-las é o dinheiro, um valor que não existe naturalmente, mas é abstraído e convencionado. O trabalhador vendeu seu tempo, seu sentimento, sua força, suas aspirações pelo dinheiro, e na posse de algum, pode trocá-lo por qualquer tipo de mercadoria, inclusive pelas que ajudou a produzir. Este trabalho alienado é um processo de mortificação, em que o homem exerce uma atividade cansativa que não condiz com sua aspiração de indivíduo opinante, de cidadão livre, ou mesmo de animal, que tem emoções, orgulho, instinto, prioridades físicas. Marx afirma que o trabalhador só consegue ser livre nas funções animais, como beber, procriar, comer, mas nas atividades humanas se vê reduzido a animal. Mas estas funções animais primárias estão implicadas com o sistema social a ponto de perderem seu sentido original.
O homem, ao modificar sua animalidade e sua humanidade, subordinado-a a um sistema social de valores e limitações, modifica-se, perde sua essência. E as esperanças humanas são então projetadas em um além, num Ser Divino, perfeito, de valores eternos. Esta alienação religiosa, subordinada à alienação econômico-política, leva o homem à incapacidade de reconhecer sua humanidade em si mesmo, porque seu Deus é definido por tudo aquilo que ele mesmo não possui, ou que perdeu.
Marx, depois de reconhecer dois aspectos do trabalho alienado - a relação do trabalhador com o produto de seu trabalho, e a relação do trabalhado ao ato de produção, a auto-alienação - fala de uma terceira determinação do trabalho alienado, que parte das outras duas. Marx, usando de um vocabulário feurbachiano sobre Ser genérico, afirma que os dois primeiros tipos de alienação alienam o homem enquanto espécie. A atividade produtiva se transformou em social. Os meios de sobrevivência do homem estão condicionados pelas leis de mercado e do trabalho. Dessa forma, a vida genérica do homem serve de meio para a vida individual, pois a atividade produtiva é o único modo de continuar existindo fisicamente. Marx então faz uma comparação entre o homem e o animal, que lembra muito a Introdução da Essência do Cristianismo. Ele afirma o animal é a sua própria atividade, não se distingue dela . Enquanto o homem possui uma "atividade vital consciente", pois submete sua atividade vital à vontade e à consciência. Feuerbach, como já observamos, afirmava que a diferença principal entre o homem e o animal é que o homem tem consciência no sentido estrito, que tem como objeto o seu gênero, a sua espécie .
Marx continua sua argumentação observando que, se o animal também produz, o homem reproduz toda a natureza, enquanto o animal apenas se reproduz a si. É interessante notar que Marx, embora esteja tratando de uma questão já exposta por outros autores, consegue aprofundar as questões, usando um vocabulário ainda hegeliano, ainda feuerbachiano. Isso acontece, porque naquele momento, Marx transformava sua consciência filosófica em economia política. Os Manuscritos tem esse duplo caráter, o filosófico e o econômico. Segundo Althusser, os encontros anteriores de Marx com a economia política tratavam apenas de algumas questões e efeitos relacionados com a política econômica . Marx encara, nos Manuscritos, a Economia Política de verdade, formulando teorias que tratam dela como um todo, procurando seus fundamentos. No início dos Manuscritos, Marx afirma que a Economia Política de então parte do fato da propriedade privada sem o explicar. A propriedade privada era pressuposto, por isso os economistas não a haviam problematizado como deviam. Nos Manuscritos, são levantados diversos conceitos e problemas que aparecerão mais tarde em O Capital. Marx analisa a economia política burguesa a partir de um conceito chave, o de trabalho alienado.
O homem, ao reproduzir-se fisicamente na natureza através da transformação da mesma pelo trabalho, reflete a si próprio no mundo objetivo. Sua individualidade é refletida pela obra que ele mesmo criou. Como já dissemos, a atividade produtiva é social, ou seja, pertence à vida genérica do homem, que ao representar-se, representa também a humanidade. O trabalho alienado tira do homem o fruto de sua produção, tirando assim, ao mesmo tempo, a sua vida genérica. Para Marx, o homem só era capaz de realizar suas forças intelectuais e físicas interagindo com o ambiente. O homem depende da natureza para crescer e conseguir sustento. Sua consciência não pode ser fechada, subjetiva, mas sim ser moldada pela realidade natural e social. O trabalho alienado transforma o homem estranho a si mesmo e ao ambiente onde vive. Segundo a concepção etimológica, alienatus é aquele que não se pertence, aquele que pertence a outro. O homem, alienado-se no seu trabalho, na sua vida genérica, aliena-se também dos outros homens. Marx continua dizendo que o ser estranho a quem pertence o trabalho alienado tem de ser algo real, objetivo. Dessa forma, não é nem à natureza nem aos deuses que ele pertence, mas sim ao próprio homem. O produto do trabalho pertence a alguém distinto do trabalhador, ou seja o capitalista. O trabalho é sofrimento para alguns, enquanto suas condições o afastam de si e da natureza, mas é fruto de gozo para aquele que desfruta dos produtos.
Portanto, a propriedade privada é fruto do trabalho alienado. A propriedade privada, para Marx, é conseqüência e causa do trabalho alienado, da mesma forma que o salário também é conseqüência deste. Marx chegou ao conceito de trabalho alienado a partir da economia política, que "tudo atribui à propriedade privada" e nada ao trabalho. Ela apenas formulou as leis do trabalho alienado, e não denunciou o seu caráter hostil à natureza humana, escravizador, que transforma o homem em um instrumento da riqueza de outros. Marx, depois de explicitar as implicações do trabalho alienado, parte para a explicação da propriedade privada.
Essa importância que Marx dá às condições materiais da transformação humana, esta aplicação da economia à filosofia levariam Marx a romper com o idealismo da esquerda hegeliana. A famosa afirmação de Marx, no Manifesto Comunista, de que a história de toda sociedade até hoje tem sido a história da luta de classes, está ligado à maturidade de seu pensamento que encontra marco definitivo no ano de 1845, com a publicação de A Ideologia Alemã, em co-autoria com seu amigo, Engels. Neste livro estão lançados a base do materialismo histórico e do materialismo dialético, que ficaram sendo conhecidos como uma designação da teoria marxista, apesar de Marx não usar exatamente estas expressões, mas sim "concepção materialista da história". Nas teses sobre Feuerbach, Marx dirige àquele que havia sido seu inspirador, como já vimos, críticas duras. O centro dessa crítica é fundamentado pela economia, pela atividade humana produtiva, pela política. O motor da história não pode ser, de modo algum, as idéias ou as teorias, mas sim a atividade humana objetiva - o trabalho.
Os filósofos sempre separaram o mundo intelectivo do mundo cotidiano, prosaico. De fato, há essa diferença entre o ócio e o negócio. O cultivo do espírito, necessário para as atividades intelectuais, não se realiza com o trabalho obrigatório. Os filósofos, muitas vezes propuseram uma linha de ação prática, como Bacon e Descartes, mas a filosofia, na contemporaneidade, perdeu muito espaço para a ciência, às vezes ocupando até um papel adjunto, de fundamentação da ciência. Isto se deve sobretudo à aplicação prática da ciência. A ciência é o saber racional do mundo, mas suas descobertas tem valor prático sobretudo por direcionar melhor a transformação da natureza em produtos utilizáveis pelo homem.
Marx critica os filósofos por desprezarem a praxis e se preocuparem apenas com a teoria. A práxis estava sendo entendida até então como uma atividade suja e mundana, e não estava sendo respeitado seu caráter revolucionário. Marx ataca Feuerbach por limitar sua crítica da auto-alienação ao terreno religioso, divino. O fundamento terreno que projeta nas nuvens um reino autônomo deve ser explicado pela decadência e contradições presentes no próprio processo evolutivo terreno. Por isso, a realidade terrena deve ser revolucionada. O fato de que as relações sociais são todas práticas e sensíveis leva à revelação que o indivíduo abstrato, sozinho, é apenas social. A XI tese adquire importância como crítica à filosofia, especialmente ao Idealismo alemão, que representavam o mundo invertido, do invisível colocado acima do sensível, da idéia colocada acima da matéria. Marx critica, em Sobre a Questão Judaica, esta inversão. Vejamos este famoso trecho:
"O fundamento da crítica religiosa é o seguinte: o homem faz a religião, a religião não faz o homem (...). O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. (...) Portanto, a luta contra a religião é indiretamente a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo perverso, e a alma das circunstâncias desalmadas. É o ópio do povo" .
Marx afirma que o sentimento religioso é um produto social relacionado a uma forma determinada de sociedade. Para ele, a fonte da deficiência religiosa deveria ser buscada na deficiência do próprio Estado. Esta deficiência deveria ser suprimida com a tomada de consciência do homem como um ser espécie, num coletivismo que mudava o homem individual, abstrato. Daí advém a divisão da sociedade em classes sociais. Marx lembra que o homem não é apenas um produto das condições materiais, pois a interação com a natureza possui um aspecto criativo e subjetivo. As circunstâncias são feitas pelos homens, e o próprio educador deve ser educado. Mas sua crítica ao idealismo é cortante, como se vê no Prefácio à Economia Política, onde Marx diz: "O processo de vida material condiciona o processo de vida social, política e individual em geral. Não é a consciência dos homens que lhes determina o ser, mas pelo contrário, é o seu ser social que lhes determina a consciência." E em A Ideologia Alemã afirma que não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência .
A mudança do modo de produção artesanal, feudal, para o modo de produção capitalista acarretou uma série de exigências dos novos grupos comerciais, como por exemplo a livre competição econômica. Os valores entendidos como representações da realidade ignoravam a base de toda ideologia, a existência no plano material, sendo entendidos como válidos para toda a humanidade, quando na verdade eram pertencentes apenas a uma classe determinada, geralmente a dominante.
O grau de avanço de um país, portanto, é determinado pelas relações de trabalho e pelas formas de produção. Marx aplica então esta concepção à história, afirmando que cada nova fase da divisão de trabalho acarreta uma mudança nas relações entre os indivíduos. Assim, inicia uma teoria da história, onde o homem ativo - aquele que produz as condições materiais de existência- teria evoluído em diferentes estágios, desde os tempos de caçador-coletor. Apresenta três formas de propriedade: a tribal, a comunal e a estamental. A quarta forma de propriedade estaria ainda acontecendo: a propriedade burguesa. Como observa no Manifesto Comunista, a burguesia revolucionou totalmente a economia e as formas de produção, gerando um novo tipo de mercadoria industrial. A burguesia teria acabado com antigas tradições da cultura popular, de formas de relacionamento. Marx inclusive chega a afirmar que a burguesia transformou as relações familiares em relações monetárias.
Com a Revolução Industrial e a produção em escala, os países mais adiantados conseguiram acumular uma riqueza jamais vista. O homem, ao satisfazer suas primeiras necessidades, chega inevitavelmente a novas necessidades. Para satisfazer suas novas necessidades, precisava transformar os meios de produção, que estariam constantemente se revolucionando.
A questão se houve ou não um corte no pensamento do Marx maduro para o jovem Marx é respondida pelo próprio com sua afirmação de que ajustara suas contas com o a consciência filosófica de outrora. Iniciar a Ideologia alemão com a crítica aos jovens hegelianos, grupo ao qual fez parte, marca seu avanço em direção a uma visão própria. Como mostramos, seu vocabulário, e sua própria consciência de si anteriores eram feuerbachianos ou inspirados em outras filosofia. Foi cm sua análise do sistema capitalista e seu apego à Economia Política que Marx traçou profundamente seu marco na história. O socialismo, ao qual só aderiu tardiamente, adquiriu com ele status científico. É na relação de O Capital com as outras obras que podemos identificar este rompimento de pensamento. Resta perguntar se foi um corte político ou epistemológico. Louis Althusser foi criticado por estabelecer "fases" para Marx, desde sua juventude como romântico em Bonn até o intelectual máximo da esquerda. Althusser afirma, em Análise Crítica da Teoria Marxista, que houve uma "censura epistemológica" situada na Ideologia alemã. Nesta obra estão novos conceitos em profusão, que ainda seriam desenvolvidos e que mostram sem nenhuma duvida que Marx passou a fazer uma nova teoria da história, e uma teoria da ciência. Porém, como em toda transição, sempre encontramos elementos antigos ainda não totalmente superados nas novas realizações. Marx não chegou ao estilo claro e ao mesmo tempo erudito de O capital do nada, mas evoluindo de si mesmo, e arregimentando cada vez mais a filosofia, a ciência, a economia para transformá-las.
Marx desenvolve o conceito de alienação mostrando que o capitalismo ( a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento ) alienou, isto é, separou o trabalhador dos seus meios de produção – ferramentas, matéria-prima, terra e máquina –que se tornaram propriedade privada do capitalista. Separava também, ou alienava, o trabalhador do fruto de seu trabalho, que também é apropriado pelo capitalista. Essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital.
Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da representatividade, base do liberalismo, criou a idéia de Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta.
Com o desenvolvimento do capitalismo, a filosofia, por sua vez, também passou a criar representações do homem e da sociedade. Diz Marx que a divisão social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a atividade de um determinado grupo. Ela é, portanto, parcial e reflete o pensamento desse grupo. Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões parciais – como, por exemplo, o liberalismo – transformaram a filosofia em “filosofia do Estado”. Esse comportamento do filósofo e do cientista em face do poder resultou também na alienação do homem.
Uma vez alienado, separado e mutilado, o homem só pode recuperar sua condição humana pela crítica radical ao sistema econômico, à política e à filosofia que o excluíram da participação efetiva na vida social. Essa crítica radical só se efetiva na práxis, que é a ação política consciente e transformadora.
Com base nessa principio, os marxistas vinculam a crítica da sociedade à ação política. Marx propôs não apenas um novo método de abordar a explicar a sociedade mas também um projeto para a ação sobre ela.

O SALARIO E A MAIS VALIA
O operário, como vimos, é aquele indivíduo que, nada possuindo, é obrigado a sobreviver da venda de sua força de trabalho. No capitalismo, a força de trabalho se torna uma mercadoria, algo útil, que se pode comprar e vender. Surge assim um contrato entre capitalista e operário, mediante o qual o primeiro compra ou “aluga por um certo tempo” a força de trabalho e, em troca, paga ao operário uma quantia em dinheiro, o salário.
O salário é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como mercadoria. Como a força de trabalho não é uma “coisa”, mas uma capacidade, inseparável do corpo do operário, o salário deve corresponder à quantia que permita ao operário alimenta-se, vestir-se, cuidar dos filhos, recuperar as energias e, assim, estar de volta ao serviço no dia seguinte. Em outras palavras, o salário deve garantir a reprodução das condições de subsistência do trabalhador e sua família.
O cálculo do salário depende do preço dos bens necessários à subsistência do trabalhador. O tipo de bens necessários depende, por sua vez, dos hábitos e dos costumes dos trabalhadores. Isso faz com que o salário varie de lugar para lugar. Além disso, o salário depende ainda da natureza do trabalho e da destreza e da habilidade do próprio trabalhador. No cálculo do salário de um operário qualificado deve-se computar o tempo que ele gastou com educação e treinamento para desenvolver suas capacidades.

TRABALHO, VALOR E LUCRO
O capitalismo vê a força de trabalho como mercadoria, mas é claro que não se trata de uma mercadoria qualquer. Enquanto os produtos, ao serem usados, simplesmente se desgastam ou desaparecem, o uso da força de trabalho significa, ao contrário, criação de valor. Os economistas clássicos ingleses, desde Adam Smith, já haviam percebido isso ao reconhecerem o trabalho como a verdadeira fonte de riqueza das sociedades.
Marx foi além. Para ele, o trabalho, ao se exercer sobre determinados objetos, provoca nestes uma espécie de “ressurreição”. Tudo o que é criado pelo homem, diz Marx, contém em si um trabalho passado, “morto”, que só pode ser reanimado por outro trabalho. Assim, por exemplo, um pedaço de couro animal curtido, uma faca e fios de linha são, todos, produtos de trabalho humano. Deixados em si mesmo, são coisas mortas; utilizados para produzir um par de sapatos, renascem como meios de produção e se incorporam num novo produto, uma nova mercadoria, um novo valor.
Os economistas ingleses já haviam postulado que o valor da mercadoria dependia do tempo gasto na sua produção. Marx acrescentou que este tempo de trabalho se estabelecia em relação às habilidades individuais médias e às condições técnicas vigentes na sociedade. Por isso, dizia que no valor de uma mercadoria era incorporado o tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção.
De modo geral, as mercadorias resultam da colaboração de várias habilidades profissionais distintas; por isso, seu valor incorpora todos os tempos de trabalho específicos. Por exemplo, o valor de um par de sapatos inclui não só o tempo gasto para confeccioná-los, mas também o dos trabalhadores que curtiram o couro, produziram fios de linha, a máquina de costura etc. o valor de todos esses trabalhos está embutido no preço que o capitalista paga ao adquirir essas matérias-primas e instrumentos, os quais, juntamente com a quantia paga a título de salário, serão incorporados ao valor do produto.
Imaginemos um capitalista interessado em produzir sapatos, utilizando para esse cálculo uma unidade de moeda qualquer. Pois bem, suponhamos que a produção de um par lhe custe 100 unidades de moeda de matéria-prima, mais 20 com o desgaste dos instrumentos, mais 30 de salário diário pago a cada trabalhador. Essa soma – 150 unidades de moeda – representa sua despesa com investimentos. O valor do par de sapatos produzido nessas condições será a soma de todos os valores representados pelas diversas mercadorias que entraram na produção (matéria-prima, instrumentos, força de trabalho), o que totaliza também 150 unidades de moeda.
Sabemos que o capitalista produz para obter lucro, isto é, quer ganhar com seus produtos mais do que investiu. No exemplo acima, vemos, porém, que o valor de um produto corresponde exatamente ao que se investe para produzi-lo. Como então se obtém o lucro?
O capitalista poderia lucrar simplesmente aumentando o preço do produto – por exemplo, cobrando 200 pelo par de sapatos. Mas o simples aumento de preços é um recurso transitório e com o tempo cria problemas. De um lado, uma mercadoria com preços elevados, ao surgir possibilidades de ganho imediato, atrai novos capitalistas interessados em produzi-la. Com isso, porém, corre-se o risco de inundar o mercado com artigos semelhantes, cujo preço fatalmente cairá. De outro lado, uma alta arbitrária no preço de uma mercadoria qualquer tende a provocar elevação generalizada nos demais preços, pois, neste caso, todos os capitalistas desejarão ganhar mais com seus produtos. Isso pode ocorrer durante algum tempo, mas, se a disputa prolongar, poderá levar o sistema econômico à desorganização.
Na verdade, de acordo com a análise de Marx, não é no âmbito da compra e da venda de mercadorias que se encontram bases estáveis para o lucro dos capitalistas individuais nem para a manutenção do sistema capitalista. Ao contrário,a valorização da mercadoria se dá no âmbito de sua produção.

A MAIS-VALIA
Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas e confeccione um par de sapatos a cada três horas. Nestas três horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é suficiente para obter o necessário à sua subsistência. Como o capitalista lhe paga o valor de um dia de força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram um valor maior do que lhe foi pago na forma de salário. A duração da jornada de trabalho resulta, portanto, de um cálculo que leva em consideração o quanto interessa ao capitalista produzir para obter lucro sem desvalorizar seu produto.
Suponhamos uma jornada de nove horas, ao final da qual o sapateiro produza três pares de sapatos. Cada par continua valendo 150 unidades de moeda, mas agora eles custam menos ao capitalista. É que, no cálculo do valor dos três pares, a quantia investida em meios de produção também foi multiplicada por três, mas a quantia relativa ao salário – correspondente a um dia de trabalho – permaneceu constante. Desse modo, o custo de cada par de sapatos se reduziu a 130 unidades.
Assim, ao final da jornada de trabalho, o operário recebe 30 unidades de moeda, ainda que seu trabalho tenha rendido o dobro ao capitalista: 20 unidades de moeda, em cada um dos três pares de sapatos produzidos. Esse valor a mais não retorna ao operário: incorpora-se no produto e é apropriado pelo capitalista.
Visualiza-se, portanto, que uma coisa é o valor da força de trabalho, isto é, o salário, e outra é o quanto esse trabalho rende ao capitalista.
Esse valor excedente produzido pelo operário é o que Marx chama de mais-valia.
O capitalista pode obter mais-valia procurando aumentar constantemente a jornada de trabalho, tal como no nosso exemplo. Essa é, segundo Marx, a mais-valia absoluta. É claro, porém, que a extensão indefinida da jornada esbarra nos limites físicos do trabalhador e na necessidade de controlar a própria quantidade de mercadorias que se produz.
Agora, pensemos numa indústria altamente mecanizada. A tecnologia aplicada faz aumentar a produtividade, isto é, as mesmas nove horas de trabalho agora produzem um número maior de mercadorias, digamos, 20 pares de sapatos. A mecanização também faz com que a qualidade dos produtos dependa menos da habilidade e do conhecimento técnico do trabalhador individual. Numa situação dessas, portanto, a força de trabalho vale cada vez menos e, ao mesmo tempo, graças à maquinaria desenvolvida, produz cada vês mais. Esse é, em síntese, o processo de obtenção daquilo que Marx denomina mais-valia relativa.
O processo descrito esclarece a dependência do capitalismo em relação ao desenvolvimento das técnicas de produção. Mostra, ainda, como o trabalho, sob o capital, perde todo atrativo e faz do operário mero “apêndice da máquina”

GLOSSARIO MARXISTA

FORÇA PRODUTIVA = meios de produção + trabalho humano:
Todo processo produtivo combina os meios de produção e a força de trabalho. Constituem as condições materiais de toda a produção. Sem o trabalho humano nada pode ser produzido e sem os meios de produção, o homem não pode trabalhar.
Todo processo de trabalho implica em determinados objetos ( matérias-primas ) e determinados instrumentos (ferramentas ou máquinas). Os objetos e instrumentos constituem os meios de produção. O proletariado constitui a força de trabalho. Os meios de produção ou meios de trabalho incluem os "instrumentos de produção" (máquinas, ferramentas), as instalações (edifícios, armazéns, silos etc), as fontes de energia utilizadas na produção (elétrica, hidráulica, nuclear, eólica etc.) e os meios de transporte. Os "objetos de trabalho" são os elementos sobre os quais ocorre o trabalho humano (matérias-primas minerais, vegetais e animais, o solo etc.).

MODO DE PRODUÇÃO = forças produtivas + relações de produção:
Conceito abstrato para definir os estágios de desenvolvimento do sistema capitalista. É a forma de organização socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Reúne as características do trabalho preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à produção (instrumentos ou ferramentas, máquinas, oficinas, fábricas, etc.) Existem 6 modos de produção: Primitivo, Asiático, Escravista, Feudal, Capitalista e Comunista.

RELAÇÕES DE PRODUÇÃO:
O trabalho é necessariamente um ato social. As pessoas dependem umas das outras para obter os resultados pretendidos. As relações de produção, são as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. As relações de produção podem ser cooperativistas ( ex: mutirão ), escravistas ( como na Antiguidade européia ou período colonial brasileiro ), servis ( como na Europa feudal ) ou capitalistas ( como na indústria moderna ). são constituídas pela propriedade econômica das forças produtivas. Na condição de escravos, servos ou assalariados, os trabalhadores participam da produção somente com sua força de trabalho. Na condição de senhores, nobres ou empresários, os proprietários participam do processo produtivo como donos dos meios de produção.

CLASSE SOCIAL:
O conceito cientifico das classes sociais exige análise dos seguintes níveis: modo de produção, estrutura social, situação social e a conjuntura. Em uma explicação mais simples, classe social é um grupo de pessoas que tem status social similar segundo critérios diversos, especialmente o econômico.
Segundo a ótica marxista, em praticamente toda sociedade, seja ela pré-capitalista ou caracterizada por um capitalismo desenvolvido, existe a classe dominante, que controla direta ou indiretamente o Estado, e as classes dominadas por ela, reproduzida inexoravelmente por uma estrutura social implantada pela classe dominante. Segundo a mesma visão de mundo, a história da humanidade é a sucessão das lutas de classes, de forma que sempre que uma classe dominada passa a assumir o papel de classe dominante, surge em seu lugar uma nova classe dominada, e aquela impõe a sua estrutura social mais adequada para a perpetuação da exploração.

SÍNTESES E EXERCÍCIOS
UNIDADE V : MAX WEBER
SINTESE DA UNIDADE
 A Sociologia weberiana caracteriza-se por um dualismo racionalismo – irracionalismo.
 A sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas.
 O objeto da sociologia, para Weber é a ação social.
 ação social é toda ação em que o indivíduo age orientando-se pela ação de outros.
 A ação social, é a conduta humana dotada de sentido.
 O sentido motiva a ação individual.
 Cada sujeito age levado por um motivo que se orienta pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade.
 O objetivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou reação de outros indivíduos.
 A ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre.
 É o indivíduo que através dos valores sociais e de sua motivação, produz o sentido da ação social.
 A transmissão destes valores comuns de uma geração para outra é chamada socialização, que é uma forma inconsciente de coerção social.
 Há diferentes tipos de ação social: tradicional, carismática, afetiva, social racional e política.
 O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações.
 O tipo ideal é uma construção do pensamento e sua característica principal é não existir na realidade, mas servir de modelo para a análise de casos concretos, realmente existentes.
 Tipos ideais de dominação: carismática, tradicional e legal.
 A noção de burocracia define, por um lado, a estrutura organizativa e administrativa das atividades coletivas, no campo público e privado, e, por outro, o grupo social constituído pelos indivíduos dedicados ao trabalho administrativo, organizado hierarquicamente, de forma que seu funcionamento seja estritamente regido por rigorosas regras de caráter interno, emanadas da legislação administrativa geral.
 O domínio legal é caracterizado, do ponto de vista da legitimidade, pela existência de normas formais.
 A burocracia possui três características básicas: é hierárquica, cada indivíduo desempenha papel específico e há normas reguladoras das relações entre as unidades dessa estrutura.
 A característica básica de todo o sistema burocrático é a existência de determinadas normas gerais e racionais de controle, que regulam o funcionamento do conjunto de acordo com técnicas determinadas de gestão, visando o maior rendimento possível.

EXERCICIOS DE FIXAÇÃO
I. LEIA AS PERGUNTAS E ASSINALE COM X A MELHOR RESPOSTA:

1. Qual era o objeto de estudo na Sociologia de Weber?
( ) a. Ação Social
( ) b. Burocracia
( ) c. O dualismo racionalismo - irracionalismo

2. Em uma eleição, como a ação social pode ser compreendida como tal?
( ) a. Quando a ação aponta para o partido com maiores chances de vencer.
( ) b. Quando a escolha feita pelo indivíduo tem como referência o conjunto de eleitores.
( ) c. Quando a escolha feita pelo indivíduo tem como referência outro eleitor.

3. Quando é que o indivíduo produz o sentido da ação social?
( ) a. Quando a ação reflete os valores sociais e a motivação do indivíduo.
( ) b. Quando a ação é feita por outro indivíduo.
( ) c. Quando o indivíduo mostra sensibilidade ao agir.

II. COLOQUE V VERDADEIRO OU F FALSO NAS AFIRMATIVAS DADAS:
a. A socialização do indivíduo se dá de forma consciente: __
b. A educação tem como tarefa socializar o indivíduo: __
c. Weber coloca que há somente um tipo de ação social, a do indivíduo: __
III. RESPONDA:
1. Qual era a característica da sociologia weberiana?
2. Qual é a diferença entre Durkheim e Weber na definição de sociedade?
3. Para Durkheim, qual é o papel do Estado, diante dos fatos patológicos?
4. Qual é a contribuição da Sociologia no Estado ?
5. O que é morfologia social ?

IV. COLOQUE C PARA CERTO E E PARA ERRADO NAS AFIRMAÇÕES DADAS:
6. Durkheim, contribuiu para que a Sociologia ganhasse status de ciência ao construir um objeto e um método para os estudos sociológicos: __
7. Para Durkheim, a sociedade apresenta sempre estados normais: __
8. O crime para Durkheim é um estado social patológico: __
9. Ação social para Weber, é qualquer ação que o individuo faz orientando-se pela ação de outros: __
10. As relações sociais se estabelecem quando surge algum tipo de sentido entre as ações: __

V. MARQUE VERDADEIRO OU FALSO, NAS AFIRMATIVAS DADAS:
11. A generalidade de um fato social garante a normalidade ( )
12. Normal é o fato que não extrapola os limites dos acontecimentos ( )
13. O motivo da ação social se orienta pela tradição e pela política ( )
14. A ação é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta do outro ( )
15. A ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre ( )

VI. COMPLETE, RETIRANDO DO QUADRO DE PALAVRAS, AQUELAS QUE DÃO SENTIDO A FRASE:
16. O poder de ________________ exercido sobre os indivíduos é identificado pelas _______________ ou resistências a alguma atitude individual contrária e quando é exterior a ele.
17. O grau de coerção dos _______________________ se torna evidente pelas sanções.
18. A _________________ é um meio de coerção onde o indivíduo é levado a internalizar as regras sociais.
19. É social, todo _____________ que é geral, que se repete em todos os indivíduos, ou pelo menos, na maioria deles.

20. RELACIONE AS CARACTERISTICAS DA AÇÃO SOCIAL:
a. tradicional ( ) instituição e perpetuação do poder
b. carismática ( ) coloca fins e organiza os meios
c. afetiva ( ) determinada por costumes
d. social racional ( ) fundamentada na crença de que seu autor tem poderes sobrenaturais
e. política ( ) orientada pelas emoções


UNIDADE VI : KARL MARX

SINTESE DA UNIDADE
 As revoluções burguesas iniciadas no séc. XVIII, se encontravam no início do séc. XIX, ameaçadas pelas forças conservadoras do feudalismo ( nobreza ) e pelo clero.
 As forças revolucionárias eram representadas pela burguesia e pelo proletariado.
 Em 1842, Marx vai para a França e conhece Engels. Em 1845 expulso da França, vai para Bruxelas participar da recém-fundada Liga dos Comunistas.
 Em 1848, Marx e Engels ( 1820 – 1895 ) escrevem o Manifesto Comunista, formulando suas idéias a partir da realidade social por eles observada. O manifesto, foi a obra fundadora do marxismo, enquanto movimento político e social a favor do proletariado.
 O objetivo de Marx não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social.
 A teoria marxista compõe-se de uma teoria científica, o materialismo histórico e de uma filosofia, o materialismo dialético.
 Marx desenvolve o materialismo histórico, a corrente mais revolucionária do pensamento social. Ele faz uma leitura crítica da filosofia de Hegel ( Alemanha, 1770 – 1831 ), de quem absorveu e aplicou, de modo peculiar, o método dialético.
 Para Hegel, o mundo é a manifestação da idéia. Marx e Engels ao contrário, diz que a matéria é a fonte da consciência e esta, reflexo da matéria.
 Marx substitui o conceito de espírito ou idéia, elementos básicos da dialética de Hegel, pelas relações de produção, sistemas econômicos e classes sociais, ou seja, pelas condições materiais de existência.
 Marx contraria a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz que ‘todos os homens são iguais política e juridicamente e que a liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão’. Ele proclama que não existe tal igualdade natural e observa que o Liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade.
 Marx tem um visão que difere da de Durkheim, dizendo que não existe consenso, mas sim uma eterna luta de classes.
 Marxismo é o conjunto de idéias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Marx e Engels e desenvolvidas mais tarde por outros.
 O marxismo interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes.
 A sociedade se transforma de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seus sistema produtivo.
 Os dois elementos principais do marxismo são: materialismo dialético ( matéria em movimento e evolução permanente ) e o materialismo histórico ( o modo de produção é a base determinante dos fenômenos históricos e sociais ).
 O conceito central na teoria marxista é a mudança.
 Marx formula uma teoria, fundada nas condições reais do capitalismo, que é definida como materialismo histórico.
 A estrutura da sociedade está fundamentada na mercadoria, ou seja, na economia.
 A estrutura econômica de uma sociedade depende da forma como os homens organizam a produção social de bens.
 A produção social de bens, engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção.
 A estrutura econômica é o alicerce sobre a qual se ergue a superestrutura jurídica e política.
 À superestrutura jurídica e política correspondem formas definidas de consciência social.
 As forças produtivas e as relações de produção constituem o modo de produção.
 O modo de produção condiciona o processo de vida social, política e espiritual.
 O estudo do modo de produção é fundamental para se compreender a organização e funcionamento da sociedade.
 Em cada modo de produção, a desigualdade de propriedade, cria contradições básicas como o desenvolvimento das forças produtivas.
 Ao se desenvolverem, as forças produtivas entram em conflito com as relações de produção existentes. Este é o momento em que acontece a revolução social.
 A mudança da base econômica, provocam revoluções nas formas ideológicas da sociedade ( jurídica, política, religiosa, artística e filosófica ).
 As desigualdades sociais são provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, as quais dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção.
 As desigualdades são a base da formação das classes sociais.
 A história do homem é a história da luta de classes.
 Uma classe, não existe sem a outra. As classes são complementares e interdependentes.
 Só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos, cuja única propriedade é sua força de trabalho.
 O conhecimento das leis gerais que regem a natureza, a sociedade e o pensamento, permite estudar cientificamente os fenômenos da natureza e da sociedade.
 O método deve ser a ciência das leis mais gerais da natureza, da sociedade e do pensamento.
 A dialética leva em conta o processo permanente de mudanças, de perene transformação de todas as coisas, do eterno vir-a-ser
 A dialética, é parte integrante da filosofia marxista e se constitui num guia para a ação revolucionária do partido proletário.
 Para o método do materialismo dialético, a base do desenvolvimento do mundo é objetiva e real, a natureza é material; a consciência e as idéias são reflexos do mundo.
 Tanto a burguesia quanto a classe operária possuem visões de mundo diferentes. A oposição entre o método dialético de Marx e o método idealista de Hegel, expressa estas diferenças.
 A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade.
 A dialética é pensamento e realidade a um só tempo.
 A matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a realidade é contraditória com o pensamento dialético.
 Princípios da dialética: tudo relaciona-se, tudo se transforma, unidade e luta dos contrários.
 A alienação da sociedade burguesa – fetichismo, é o fato da pessoa idolatrar certos objetos.
 A alienação se estende por todos os lados, mas não se trata de produto da consciência coletiva.
 A alienação constrói uma consciência fragmentada, que vem a ser a visão ou concepção que a pessoa têm de um assunto, sem explorar suas multifaces e suas contradições.
 Na alienação não há senso crítico. A alienação alimenta o dogmatismo, que se baseia em uma verdade única e não questionada.
 Para Marx, a alienação religiosa seria gerada pela alienação econômica.
 O sistema capitalista transforma o trabalhador e o trabalho em mercadorias, ao privar o trabalhador dos objetos que produz. Quanto mais ele produz, menos pode possuir.
 O Estado submete os trabalhadores a seus próprios interesses.
 O trabalhador ganha um salário que não consegue comprar os produtos que ele próprio produziu. Esta é a contradição básica do sistema capitalista na época de Marx.
 Marx, dialeticamente, oferece um quadro de inversões para as atividades dos trabalhadores: quanto mais produz, menos possui, quanto mais civilizado é o produto feito por ele, tanto mais bárbaro ele se mostra.
 Nas fábricas as limitações a que o empregado é submetido, como os movimentos repetitivos, as jornadas de trabalho sobre-humanas, o baixo salário, a repressão e outras, apenas evidenciam seu caráter apenas funcional.
 O trabalhador não transforma mais a natureza para fazer coisas que estão relacionadas a ele, ou que vão beneficiá-lo diretamente. Sua atividade apenas vai garantir que não morra de fome, pois o salário mínimo é a soma das condições mínimas de subsistência (alimentação e moradia).
 A alienação para Marx ocorre não na relação do trabalhador com o produto de seus trabalhos, mas também na própria atividade produtiva.
 O trabalho não pertence à natureza do trabalhador, mas sim é condição para que esse sobreviva minimamente, sendo obrigado a se adequar à condições de trabalho.
 O trabalho "não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades".
 O trabalhador vendeu seu tempo, seu sentimento, sua força, suas aspirações pelo dinheiro, e na posse de algum, pode trocá-lo por qualquer tipo de mercadoria, inclusive pelas que ajudou a produzir.
 Este trabalho alienado é um processo de mortificação, em que homem exerce uma atividade cansativa que não condiz com sua aspiração de indivíduo opinante, de cidadão livre, ou mesmo de animal, que tem emoções, orgulho, instinto, prioridades físicas.
 A alienação religiosa, subordinada à alienação econômica-política, leva o homem à incapacidade de reconhecer sua humanidade em si mesmo, porque seu Deus é definido por tudo aquilo que ele mesmo não possui, ou que perdeu.
 Marx, reconhece dois aspectos do trabalho alienado: a relação do trabalhador com o produto de seu trabalho, e a relação do trabalhado ao ato de produção, a auto-alienação.
 Os meios de sobrevivência do homem estão condicionados pelas leis de mercado e do trabalho.
 O trabalho alienado tira do homem o fruto de sua produção, tirando assim, ao mesmo tempo, a sua vida genérica.
 O homem depende da natureza para crescer e conseguir sustento. Sua consciência não pode ser fechada, subjetiva, mas sim ser moldada pela realidade natural e social.
 O trabalho alienado transforma o homem estranho a si mesmo e ao ambiente onde vive.
 A propriedade privada é fruto do trabalho alienado. A propriedade privada, para Marx, é conseqüência e causa do trabalho alienado, da mesma forma que o salário também é conseqüência deste.
 Marx chegou ao conceito de trabalho alienado a partir da economia política, que "tudo atribui à propriedade privada" e nada ao trabalho.
 O caráter do trabalho alienado, é hostil à natureza humana, escravizador, que transforma o homem em um instrumento da riqueza de outros.
 O motor da história não pode ser, de modo algum, as idéias ou as teorias, mas sim a atividade humana objetiva - o trabalho.
 Os filósofos sempre separaram o mundo intelectivo do mundo cotidiano, prosaico. De fato, há essa diferença entre o ócio e o negócio. O cultivo do espírito, necessário para as atividades intelectuais, não se realiza com o trabalho obrigatório.
 A ciência é o saber racional do mundo, mas suas descobertas tem valor prático sobretudo por direcionar melhor a transformação da natureza em produtos utilizáveis pelo homem.
 Marx critica os filósofos por desprezarem a praxis e se preocuparem apenas com a teoria. A práxis estava sendo entendida até então como uma atividade suja e mundana, e não estava sendo respeitado seu caráter revolucionário.
 A fonte da deficiência religiosa deveria ser buscada na deficiência do próprio Estado. Esta deficiência deveria ser suprimida com a tomada de consciência do homem como um ser espécie, num coletivismo que mudava o homem individual, abstrato. Daí advém a divisão da sociedade em classes sociais.
 A mudança do modo de produção artesanal, feudal, para o modo de produção capitalista acarretou uma série de exigências dos novos grupos comerciais, como por exemplo a livre competição econômica.
 O grau de avanço de um país, portanto, é determinado pelas relações de trabalho e pelas formas de produção.
 O homem ativo - aquele que produz as condições materiais de existência - teria evoluído em diferentes estágios, desde os tempos de caçador-coletor. Apresenta três formas de propriedade: a tribal, a comunal e a estamental. A quarta forma de propriedade estaria ainda acontecendo: a propriedade burguesa.
 O homem, ao satisfazer suas primeiras necessidades, chega inevitavelmente a novas necessidades. Para satisfazer suas novas necessidades, precisava transformar os meios de produção, que estariam constantemente se revolucionando.
 O capitalismo ( a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento ) alienou, isto é, separou o trabalhador dos seus meios de produção – ferramentas, matéria-prima, terra e máquina – que se tornaram propriedade privada do capitalista.
 Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da representatividade, base do liberalismo, criou a idéia de Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos.
 Marx mostrou, que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta.
 A divisão social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a atividade de um determinado grupo. Ela é, portanto, parcial e reflete o pensamento desse grupo. Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões parciais – como, por exemplo, o liberalismo – transformaram a filosofia em “filosofia do Estado”. Esse comportamento do filósofo e do cientista em face do poder resultou também na alienação do homem.
 Uma vez alienado, o homem só pode recuperar sua condição humana pela crítica radical ao sistema econômico, à política e à filosofia que o excluíram da participação efetiva na vida social. Essa crítica radical só se efetiva na práxis, que é a ação política consciente e transformadora.
 Os marxistas vinculam a crítica da sociedade à ação política. Marx propôs não apenas um novo método de abordar a explicar a sociedade mas também um projeto para a ação sobre ela.
 No capitalismo, a força de trabalho se torna uma mercadoria, algo útil, que se pode comprar e vender. Surge assim, o contrato entre capitalista e operário.
 O salário é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como mercadoria.
 O salário deve garantir a reprodução das condições de subsistência do trabalhador e sua família.
 O cálculo do salário depende do preço dos bens necessários à subsistência do trabalhador.
 O tipo de bens necessários depende, por sua vez, dos hábitos e dos costumes dos trabalhadores. Isso faz com que o salário varie de lugar para lugar.
 O salário depende ainda da natureza do trabalho e da destreza e da habilidade do próprio trabalhador.
 No cálculo do salário de um operário qualificado deve-se computar o tempo que ele gastou com educação e treinamento para desenvolver suas capacidades.
 Os economistas clássicos ingleses, desde Adam Smith, já haviam reconhecido o trabalho como a verdadeira fonte de riqueza das sociedades.
 Para Marx o trabalho, ao se exercer sobre determinados objetos, provoca nestes uma espécie de “ressurreição”. Tudo o que é criado pelo homem, diz Marx, contém em si um trabalho passado, “morto”, que só pode ser reanimado por outro trabalho.
 Marx disse que o tempo de trabalho se estabelecia em relação às habilidades individuais médias e às condições técnicas vigentes na sociedade. Por isso, dizia que no valor de uma mercadoria era incorporado o tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção.
 As mercadorias resultam da colaboração de várias habilidades profissionais distintas; por isso, seu valor incorpora todos os tempos de trabalho específicos.
 De acordo com a análise de Marx, não é no âmbito da compra e da venda de mercadorias que se encontram bases estáveis para o lucro dos capitalistas individuais nem para a manutenção do sistema capitalista. Ao contrário,a valorização da mercadoria se dá no âmbito de sua produção.
 Uma coisa é o valor da força de trabalho, isto é, o salário, e outra é o quanto esse trabalho rende ao capitalista.
 O valor excedente produzido pelo operário é o que Marx chama de mais-valia.
 O capitalista pode obter mais-valia procurando aumentar constantemente a jornada de trabalho. Essa é, segundo Marx, a mais-valia absoluta.
 A extensão indefinida da jornada esbarra nos limites físicos do trabalhador e na necessidade de controlar a própria quantidade de mercadorias que se produz.
 Numa indústria altamente mecanizada, a tecnologia aplicada faz aumentar a produtividade, isto é, as mesmas nove horas de trabalho agora produzem um número maior de mercadorias.
 A mecanização faz com que a qualidade dos produtos dependa menos da habilidade e do conhecimento técnico do trabalhador individual.
 Na confrontação do trabalhador com a tecnologia, a força de trabalho vale cada vez menos e, ao mesmo tempo, graças à maquinaria desenvolvida, produz cada vês mais. É onde se dá a mais-valia relativa.
 O capitalismo depende do desenvolvimento das técnicas de produção.
 O trabalho, sob o capital, perde todo atrativo e faz do operário mero “apêndice da máquina”.
 Segundo Marx, o socialismo conseguiu duas coisas: os socialistas demonstraram a existência de uma luta universal e generalizada entre o capital e o trabalho e, consequentemente, tentaram promover um entendimento entre os trabalhadores dos diferentes países.
 Os capitalistas se estão a tornar mais cosmopolitas na contratação do trabalho, admitindo trabalhadores estrangeiros em vez de trabalhadores nacionais, não só na América, mas em Inglaterra, França e Alemanha.
 Com o socialismo, nasceram de imediato relações internacionais entre trabalhadores dos três diferentes países, mostrando que o socialismo é um problema internacional, e que seria resolvido pela ação internacional dos trabalhadores.
 As classes trabalhadoras agem espontaneamente, sem saber quais serão os fins do movimento.
 Os socialistas não inventaram nenhum movimento. Limitaram-se a dizer aos trabalhadores qual é o caráter e quais são os fins dos movimentos que já existem.
 O sistema de terra e capital nas mãos dos empregadores, por um lado, e a mera força de trabalho nas mãos dos trabalhadores, por outro, é apenas uma fase histórica, que há de dar lugar a uma situação social mais evoluída.
 O antagonismo entre as duas classes vai a par com o desenvolvimento dos recursos industriais dos países modernos.
 A partir dos sindicatos construíram-se em muitos países organizações políticas.
 Na América, a necessidade de um partido dos trabalhadores tornou-se manifesta. A América não está sozinha, só que o seu povo é mais decidido que o europeu.
 As medidas violentas contra a religião não fazem sentido. À medida que o socialismo cresce, a religião vai desaparecer. Mas o seu desaparecimento terá de se fazer pelo desenvolvimento social, no qual a educação tem um papel importante.
 Não é preciso ser socialista para prever uma revolução sangrenta na Rússia, na Alemanha, na Áustria e possivelmente na Itália, se os italianos continuarem a política atual. Os acontecimentos da Revolução Francesa podem acontecer de novo nesses países. Isso é evidente para qualquer estudante de política. Mas essas revoluções serão feitas pela maioria. Nenhuma revolução pode ser feita por um partido, mas por uma nação.
 Nenhum grande movimento se fez sem derramamento de sangue.

EXERCICIOS DE FIXAÇÃO

I. RELACIONE UMA COLUNA COM A OUTRA:
a) Nobreza e clero ( ) escravização e empobrecimento
b) Burguesia ( ) força revolucionária
c) Proletariado ( ) forças conservadoras

II. RESPONDA:
a) Quais foram os obstáculos encontrados pelas revoluções burguesas no início do século XIX ?
b) Os movimentos liberais e nacionais, iniciados na França, se estenderam por quais países?
c) Qual foi o foco do Manifesto Comunista?
d) Qual era o objetivo de Marx?
e) Quais são as idéias principais do Manifesto Comunista?
f) Quais são os três tipos de socialismo?

III. COLOQUE C PARA CERTO E E PARA ERRADO NAS AFIRMAÇÕES DADAS:
1. A estrutura da sociedade está fundamentada na mercadoria: __
2. A sociedade está estruturada no sistema social: __
3. Segundo o materialismo dialético, a estrutura econômica da sociedade, depende da forma de organização da produção social de bens: __
4. As forças produtivas e relações de produção constituem o modo de produção: __

IV. COMPLETE AS FRASES:
a. O _____________________ da vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual em geral.
b. A história do homem é a história do ___________________ e do _______________ de diferentes modos de produção.
c. A desigualdade de propriedade é o fundamento das __________________________ e cria contradições básicas com o desenvolvimento das __________________________
d. A mudança da _______________________ , gerada pela transformação material das condições econômicas de produção, provocam revoluções nas formas ideológicas da sociedade.

V. RESPONDA:
9. O que é marxismo?
10. O que você entende por materialismo dialético?
11. O que você entende por materialismo histórico?
12. Quais são as três leis da dialética ?
13. O que são modos de produção, forças produtivas e relações sociais da produção?

VI. LEIA AS PERGUNTAS E ASSINALE COM X A RESPOSTA CORRETA:

1. O que é fetichismo como alienação da burguesia?
( ) a. O fetiche da burguesia é andar de carro e ter propriedades.
( ) b. É quando a pessoa idolatra certos objetos, dando mais importância aos bens materiais.
( ) c. É quando o grupo cria situações de idolatria em bens materiais.

2. Quando a alienação alimenta o dogmatismo?
( ) a. Quando foca em um aspecto de um assunto, sem explorar suas contradições.
( ) b. Quando defende uma consciência coletiva.
( ) c. Quando o trabalhador se volta para a religião.

3. O capitalismo, segundo o marxismo, transformou o trabalho em:
( ) a. valor-de-uso
( ) b. riqueza
( ) c. mercadoria

VII. RESPONDA:
1. Qual é a conseqüência da alienação para a consciência do indivíduo?
2. Para Marx qual é a origem da alienação religiosa?
3. Quando o sistema capitalista transforma o trabalhador e o trabalho em mercadoria?
4. Que crítica Marx faz a economia política?
5. Qual é a contradição básica do sistema capitalista?
6. Quais são as evidências do caráter funcional do trabalho nas fábricas?
7. Como se define o trabalho para o trabalhador?
8. Em que situação o homem perde sua essência?

VIII. COLOQUE V VERDADEIRO OU F FALSO NAS AFIRMATIVAS DADAS:
b. O capitalismo alienou, isto é, separou o trabalhador dos seus meios de produção e do fruto de seu trabalho: __
c. O homem se tornou politicamente alienado, quando foi criada a religião: __
d. Na sociedade de classes, o Estado representa apenas a classe dominante e age conforme seus interesses: __
e. A filosofia, com o desenvolvimento do capitalismo, se tornou parcial, refletindo o pensamento de um determinado grupo: __
f. O comportamento do filósofo e do cientista que apóia o Estado e o grupo dominante, resultou na alienação do homem: __

IX. LEIA AS PERGUNTAS E ASSINALE COM X A RESPOSTA CORRETA:

1. Como se pode definir um operário?
( ) a. Indivíduo que opera com máquinas
( ) b. Indivíduo que vende sua força de trabalho
( ) c. Indivíduo que compra força de trabalho

a. Como é considerada a força de trabalho?
( ) a. Mercadoria
( ) b. Uma coisa
( ) c. Uma habilidade

b. Qual é a verdadeira fonte de riqueza, segundo os economistas clássicos ingleses?
( ) a. O lucro
( ) b. A mercadoria
( ) c. O trabalho

X. COLOQUE V VERDADEIRO OU F FALSO NAS AFIRMATIVAS DADAS:
4. O salário é o valor da força de trabalho: __
5. O tipo de bens necessários depende do trabalho: __
6. As mercadorias resultam da colaboração de várias habilidades profissionais distintas: __
7. No cálculo do salário de um operário, computa-se o tempo que ele gastou com educação e lazer: __

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Dicionário do pensamento marxista, Tom Bottomore. RJ: Jorge Zahar, 1988
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia: série Brasil. SP: Ática, 2004
ARANHA, Maria L. de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia. SP: Moderna, 1993
COSTA, Maria C. Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. SP: Moderna, 1998
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. SP: Brasiliense, 1982
Meksenas, Paulo. Sociologia. SP: Cortez, 1994

FONTES NA INTERNET
http://www.iupe.org.br/ass/sociologia/soc-durkheim-escola_sociologica.htm
http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/soc_p.html
http://www.direitonet.com.br/artigos/x/14/48/1448/
http://www.anpocs.org.br/cursosoc.doc
http://redebonja.cbj.g12.br/ielusc/turismo/disciplinas/admin1/grupos/burocrac.htm
http://smurf3.tripod.com/burocracia.html
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=8260
http://www.infonet.com.br/marcosmonteiro/sociologiajuridica/objetodasociologia.doc

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