DICAS DE FILMES, LIVROS, ETC

Précis de Décomposition - “Breviário da Decomposição”, de Émile Cioran

Este livro foi dica de Ivan da T: 1002 de 2010, do Colégio Estadual Almirante Frederico Villar.
Ele leu uma passagem para a turma e eu comentei.

Resenha de Breviário de Decomposição de E. M. Cioran

“Uma alma não se engrandece, nem perece, senão pela quantidade de
insuportável que ela assume.”

Breviário de decomposição
O escritor romeno E.M.Cioran, nascido em 1911 e morto em 1995, é apreciado por aqueles que não temem olhar sinceramente para si mesmos. Formado em Filosofia, interessou-se inicialmente por Bergson, mudando posteriormente sua atenção para Nietzsche. Escreveu seus primeiros livros em romeno, mas em 1937 foi para a França, onde se exilou e passou a escrever em francês.
Seu livro Breviário de decomposição (1949) é o primeiro dos que escreveu em francês e compõe-se de vários pequenos textos sobre assuntos diversos. Escreveu também Silogismos da amargura, História e utopia, Exercícios de admiração e Antologia do retrato, todos traduzidos para o português.
Interessa a Cioran que não escondamos nossa miséria moral, nossas inclinações à vingança, nossa crueldade e egoísmo por detrás de sorrisos desdenhosamente civilizados e boas maneiras herdadas de nosso pendor à manter a etiqueta.
O desespero do homem por se saber finito faz com que sejamos tão irremediavelmente, e talvez inocentemente, centralizados em nossa transitoriedade que "quanto mais tentamos nos apartar de nós, mais nos atolamos em nós."
O desconforto de não conseguirmos justificar nosso próximo respiro nos atordoa, nos faz engendrar idolatrias, e semeia em nosso espírito o ressentimento com que olhamos para o que nos rodeia. E como poderíamos apreciar qualquer paisagem se projetamos nela nossas imperfeições?
Cioran escreve à beira do abismo. Vasculha a condição humana por dentre os escombros do fracasso da significação. Seu pensamento clareia aquela região da alma cuja obscuridade encerra o temor que temos de que, se nos enxergarmos intimamente, não mais nos olharemos no espelho fingindo inocência.

Marco Grabolos
CIORAN, E. M., Breviário de decomposição, (trad. José Thomaz Brum), Rio de Janeiro: Rocco, 1989.

Este é um livro para quem gosta de desafios e reflexões sobre o homem; instigante, intenso e muitíssimo bem escrito. Esta é a primeira obra escrita em francês pelo filósofo romeno E. M. Cioran (publicado na França em 1949) e contém ensaios que remetem à idéia de que "é preciso destruir no homem sua propensão á fé, seu apetite pelo poder e sua faculdade monstruosa de de ser obcecado por um deus". Pode parecer radical, talvez o seja, mas é bom para pensar e ler. Como já tornou-se consenso, Cioran é considerado um dos grandes prosadores da língua francesa, e, apesar de apontado como pessimista e cultor de paradoxos, exatamente por isso tais escritos me soam fundamentais e atuais. Aliás, este livro me foi recomendado pelo meu inesquecível avô materno, Iosif Landa, que era um artista da vida e otimista inveterado. Veio da Rumânia para essa plagas em 1937... Recomendou-me esta leitura e fez muito bem. Tanto por ter vindo ao Brasil, como por ter recomendado e lido Cioran. As verdades nunca são absolutas e textos são textos.. Desculpem a nota biográfica, mas não resisti!

As idéias nascem puras, neutras. O homem lhes dá vida, força, vigor. E projeta sua faíscas, suas loucuras. É aí que se consuma a passagaem da lógica à epilepsia. É assim que surgem as mitologias, as doutrinas, as farsas sangrentas; momentos de intolerância ou proselitismo que revelam as profundezas do entusiasmo.

“Só tem essas convicções aquele que não aprofundou nada”. Essa frase de Emil Cioran praticamente resume o seu pensamento Pertencente à grande tradição de despertadores de espíritos, da qual fazem parte Nietzsche, Pascal ,Kierkegaard e Unamuno, o filósofo romeno foi, durante todo o século XX, uma espécie de posto avançado da oposição ao predomínio da técnica e da razão na sociedade moderna. Ferozmente independente, ele não admitiu mestres e, apesar de místico, nunca recorreu aos mestres da teologia para insurgir-se contra a progressiva coisificação do homem: “Um balbucio de Santa Teresa nos dá mais idéia de Deus do que toda a teologia de Santo Tomás de Aquino”.
Além de tudo, foi um dos maiores prosadores em língua francesa do século passado, apesar de ter adotado tardiamente o idioma. Em 1949 escreveu seu primeiro livro em francês: Breviário da Decomposição (Editora Rocco).
A crítica francesa da época se espantou. Afinal, quem era aquele jovem escritor, vindo de uma cultura periférica que arrogantemente atacava toda a filosofia contemporânea e, por tabela, toda a civilização ocidental? Pois é justamente isso o que Cioran faz nesse Breviário. As mitologias, as doutrinas, as linhas de pensamento, enfim, todas as certezas pedantes são submetidas à prova do fogo cioraniano, atiçado pela ironia e pelo sarcasmo amargo. Fazer com que seus leitores vivessem na dúvida e no assombro de encarar as falácias de quem quer tudo explicar pela razão: eis, em poucas palavras, a sofrida missão de Cioran.
Primeiro livro escrito em francês pelo filósofo romeno, Breviário de decomposição é uma excelente introdução à obra do mestre, cujo primeiro ensaio, Nos cumes do desespero, editado em 1934, valeu ao autor o Prêmio dos Jovens Escritores Romenos.
Lado a lado com uma irada crítica ao fanatismo, o livro traz uma retomada da temática mística, tratada anteriormente em Das lágrimas e dos santos, texto de 1937.
O estilo do filósofo concentra poesia e prosa, precipício e altura, desesperança e lucidez que atinge neste livro os limites de uma radicalidade existencial a um só tempo consciente e arrebatada. Uma meditação sobre o homem e a sociedade, e também "um catálogo frenético de nossos instintos assassinos".
As idéias nascem puras, neutras. O homem lhes dá vida, força, vigor. E projeta suas faíscas, suas loucuras. É aí que se consuma a passagem da lógica à epilepsia. É assim que surgem as mitologias, as doutrinas, as farsas sangrentas; momentos de intolerância ou proselitismo que revelam as profundezas do entusiasmo. Esse é, em resumo, o pensamento de Cioran em Breviário de decomposição, um verdadeiro código do desespero.

Excerto de Breviário da Decomposição
por E. M. Cioran
http://niilismo.net/forum/viewtopic.php?t=226

Conheces essa fornalha da vontade na qual nada resiste a teus desejos, onde a fatalidade e a gravidade perdem seu império e volatilizam-se ante a magia do poder? Certo de que teu olhar suscitaria um morto, de que tua mão posta sobre a matéria a faria estremecer, de que a teu contato as pedras palpitariam, de que todos os cemitérios floresceriam em um sorriso de imortalidade, repetes a ti mesmo: de agora em diante só haverá uma primavera eterna, uma dança de prodígios e o fim de todos os sonos. Trouxe um outro fogo: os deuses empalideceram e as criaturas se regozijam; a consternação apoderou-se da abóbada celeste e a algazarra desceu até as tumbas. ... e o amante dos paroxismos, sem fôlego, cala-se um instante para proferir, com tom de quietismo, palavras de abandono: " experimentaste alguma vez esta sonolência que se transmite às coisas, este rancor que torna anêmicas as seivas, e as faz sonhar com um outono vencedor das outras estações? À minha passagem, as esperanças adormecem, as flores murcham, os instintos enfraquecem: tudo pára de querer, tudo se arrepende de haver querido. E cada ser me sussurra: gostaria que outro vivesse minha vida, fosse deus ou uma lesma. Suspiro por uma vontade de inação, um infinito em suspenso, uma atonia extática dos elementos, uma hibernação em pleno sol, que entorpeceria tudo, do porco à libélula...
A Pulpite da Lucidez. O pior de toda lucidez é o inevitável desembocar no antro da amargura. É a paga a quem recusa o engodo, o teatrinho das conveniências diárias, a quem se recusa ser denominado profeta e alimentar um rebanho obediente e seguidor. Cioran é o intelectual que torcemos para estar errado, pois sua amargura é magistralmente bem fundamentada. A este propósito invoco uma espécie de dicionário a partir da obra destacada:
a) fiel, espécie de criminoso pronto para abater quem não aceita suas crenças. _Sua capacidade de adorar é responsável por todos os seus crimes: o que ama indevidamente um deus obriga os outros a amá-lo, na espera de exterminá-los se se recusam. Não há intolerância, intransigência ideológica ou proselitismo que não revelem o fundo bestial do entusiasmo_p.11;
b) amor, _encontro de duas salivas_ p.15.
c) convívio, decadência p.24,
d) homem, o único ser na escala das criaturas_que pode inspirar um nojo constante_p.25;
e) vida, período de decomposição, de apodrecimento do corpo, nascer é começar a apodrecer ...e por aí vai. Na minha avaliação, recomendável apenas aos espíritos preparados.

FILME: INVICTUS
Dica de Fábio da T: 2003 de 2010, do Colégio Estadual Almirante Frederico Villar.

Este filme estreou em: 29 de Janeiro de 2010

Invictus acompanha o período em que Nelson Mandela (Morgan Freeman) sai da prisão em 1990, torna-se presidente em 1994 e os anos subsequentes. Na tentativa de diminuir a segregação racial na África do Sul, o rugby é utilizado para tentar amenizar o fosso entre negros e brancos, fomentado por quase 40 anos. O jogador Francois Pienaar (Matt Damon) é o capitão do time e será o principal parceiro de Mandela na empreitada.